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terça-feira, 31 de março de 2015

O Mundo Virtual e o Mundo Real!

    
                                                                                              Um menino se chega ao pé de alguém que num restaurante, se prepara para almoçar.Enquanto espera que o sirvam, abre o portátil e começa a ler os emails. Senhor pode me dar uma moeda para comprar um pão? Não..não tenho moedas,.... me dê só uma moeda para comprar um pão.
Está bem eu compro-te um pão!.......Senhor pede para pôr manteiga e queijo no pão.....Ok, mas está calado.......quero trabalhar.......Entretanto chega a refeição. E pede o pão para o rapaz. O empregado pergunta : quer que o mande embora ...não, está tudo bem....então o menino se senta. Senhor o que está fazendo? Estou lendo Emails. O que são emails? São mensagens electrónicas enviadas por pessoas via Internet. é como se fosse uma carta, só que por via Internet. Senhor você tem Internet? Tenho sim....o que é Internet? É um local no computador onde podes conhecer pessoas, ler , ouvir musica e até poderes ver um mundo, onde tudo é belo e `a nossa maneira .É o mundo virtual. O que é Virtual? É um local que imaginamos.É aqui que criamos um Mundo à nossa maneira, um Mundo que gostamos. Isso é bonito...gostei.Tu entendes o que é virtual? Sim eu também vivo nesse Mundo Virtual. Tu tens computador? Não, mas o meu Mundo é desse geito ..virtual.Minha mãe fica todo o dia fora, chega muito tarde, quase não a vejo. Eu fico cuidando do meu irmão mais pequeno que vive chorando com fome, eu lhe dou água para ele pensar que é sopa.Minha irmã mais velha sai todo o dia, diz que vai vender o corpo, mas eu não entendo, pois volta sempre com o seu corpo. Meu pai está na cadeia.........., mas eu sempre imagino a minha família toda junta em casa, muita comida, muitos brinquedos de Natal. Eu indo à escola, para ser médico um dia. Isto não é virtual senhor? Fechou o portátil antes que as lágrimas lhe começassem a cair pela cara. Esperou que o menino acabasse de comer.Que agradeceu com o mais belo sorriso que alguma vêz recebeu na vida, com um obrigado sr. Você é bom!...O mundo Virtual em que vivemos esquecendo o Mundo Real em que milhões de pessoas vivem!........

José do Rosário

domingo, 29 de março de 2015

E O Sócrates é doente....mas parece que não é parvo.



Referir que acredito na culpabilidade de Duarte Lima no caso do assassinato no Brasil, que acredito que Lee Harvey Oswald matou Kennedy, Que João Paulo I foi assassinado
e que não gosto particularmente de Cavaco Silva.
Serve isto para dizer que não me deixo levar por "teorias de conspiração", que normalmente apenas existem na cabeça de alguns "iluminados" e que felizmente raramente correspondem à realidade.
 A minha opinião sobre Sócrates é muito simples...

Sócrates é doente...

E como não consegue distinguir a verdade da mentira, tem um discurso coerente e credível, quer seja verdade o que diz, quer seja completamente falso...
Sócrates tem um ego gigantesco...
Acha-se um génio, e no seu desvario achou que o País lhe devia eterno reconhecimento...

Fez de Portugal o seu quintal...

 E trouxe para a brincadeira os seus amigos...
Se hoje não duvido da honestidade de homens como Luis Amado, ou Teixeira dos Santos, sempre achei que só num governo comandado por um lunático, se poderiam encontrar personagens como Paulo Campos ou Maria de Lurdes Rodrigues...


Sócrates trouxe para a politica um modo agressivo e de falta de educação, que segundo os seus seguidores o definiam como o "Animal Feroz".
 Para mim, e já o referi anteriormente, José Sócrates é apenas um homem que não aceita o contraditório, e é extremamente mal educado...
 Que faz do insulto a sua arma...

Que faz do medo o seu "
modus operandi"...


Que não hesitou em quebrar a espinha ao ministério público através de magistrados cobardes, como Cândida Almeida, Pinto Monteiro ou 
Noronha do Nascimento, os quais pura e simplesmente evitaram que qualquer processo que envolvesse o primeiro ministro, chegasse sequer a inquérito...
 Que criou na banca uma rede de influências, através das quais manteve uma divida pública artificial, assente na compra de títulos dessa mesma divida por parte da Banca e que levou à sua total descapitalização...
Que tentou silenciar a imprensa que lhe era incómoda, nomeadamente o Sol, o Correio da Manhã e a Revista Sábado, chegando a tentar que a PT comprasse a TVI para afastar Manuela Moura Guedes e o marido...
A partir de determinada altura Sócrates confundiu tudo...
 Achou-se um predestinado...
Os outros eram todos "bota baixistas"...
A Europa não o entendia...
 Começou a privar com exemplos de Democracia...
De Kadhafi a Hugo Chavéz, não houve ditador que não visitasse o "Messias"...
Ficou completamente alheado da realidade...
Agarrou-se a mitos tipo PEC 4...
Que ainda hoje defende, mesmo depois de Jean Claude Trichet ter dito que em Maio de 2011, Portugal pura e simplesmente não tinha dinheiro...
 Na RTP tinha um comentário semanal que parecia um comício, tendo José Rodrigues dos Santos sido afastado por razões nunca explicadas em detrimento de Cristina Esteves a qual, se comportava com uma docilidade por vezes a roçar o ridículo...

Hoje ouvi Pinto Monteiro dizer uma barbaridade...

Que almoçou com Sócrates e que apenas falaram de livros...

Alguém acredita nisto?

 Era neste estado de mentira que Sócrates se movia...
Era num Portugal esquizofrénico que o primeiro ministro vivia, e cuja esquizofrenia é hoje paga por nós a peso de ouro...
Alguns jornalistas e comentadores parecem estar mais interessados em saber sobre a violação do segredo de justiça, do que sobre crime em si...
 É tão absurdo como eu dar um tiro em alguém, e a preocupação da justiça ser se a pistola estava legal ou não...
Surreal...
 Não conheço José Sócrates...

Não o quero conhecer...

Não quero conhecer o homem que levou o meu país, a aparecer nos jornais de todo o mundo pelas piores razões...

E se um dia o "animal feroz" me atacar, dir-lhe-ei apenas uma frase...
Não tenho medo de si...

"
António Manuel Santos Franco

A Organização Mundial de Saúde classifica cinco pesticidas, como cancerígenos !


O pesticida a gozar de maior popularidade enquanto "residual" sempre foi o glifosato (vulgar Roundup), um herbicida sistémico, talvez por ser um dos pesticidas mais vendidos no planeta, talvez porque um dos maiores problemas a resolver em agricultura são as designadas infestantes ou plantas adventícias.
 
Quem como eu estuda agronomia desde os 15 anos, foi sendo "educado" pela escola da altura e pela própria indústria que vende pesticidas, que há muitos anos é a única a fazer extensão rural no nosso país, que muitos destes pesticidas tinham uma acção "residual", que o seu efeito passava, que os compostos desapareciam, que tudo era perfeitamente seguro, quer para o ecossistema, quer para a saúde humana.

Conheço inclusive alguns técnicos que ainda hoje juram a pés juntos pelo efeito residual do glifosato, usado todas as semanas pelas autarquias de todo o país, nas vossas ruas, nos jardins públicos, nas escolas onde os nossos filhos estudam, pela totalidade dos agricultores convencionais em todo o mundo.
 
Agora (porquê só agora???) vem a Organização Mundial de Saúde (OMS) dizer-nos que o glifosato se encontra numa lista de pesticidas “possível ou provavelmente” cancerígenos.

Quase nenhum órgão de comunicação em Portugal divulgou esta notícia, porquê??? Será porque este pesticida É UTILIZADO EM TODAS AS CULTURAS, SIM, TODAS AS CULTURAS E LUGARES ADJACENTES, em agricultura convencional??? Porque os seus resíduos se encontram em quase todos os alimentos que consumimos?

Andamos cegos e de prioridades totalmente trocadas...
 
Pergunto: Já ouviram falar de agricultura biológica?


Com a devida vénia retirado daqui


Num próximo artigo eu publico : Porque se morre tanto de cancro em Alvalade??? E não só

terça-feira, 24 de março de 2015

Telefonar para números começados por 707...Você vai pagar bem, nem que seja por uma boa causa!



Telefonar para números começados por 707 custam uma fortuna .Principalmente se for de um telemóvel .

Recuse ligar para os números de telefone começados por 707.Estes números (chamados únicos pela PT), não são  considerados números pertencentes à rede fixa, são sempre pagos.Mesmo aqueles que estão a pagar uma mensalidade, com a promessa de ter as chamadas grátis terão sempre que pagar (e muito !) estas chamadas .
 Números de telefone começados , por 707 , além de apresentarem um elevado custo para quem faz a  chamada,raramente são acompanhados  do custo por minuto (porque será?).Quanto custa ligar para estes números?
 Só quando recebe a factura ou saldo do telemóvel...  terá a percepção do roubo que foi alvo.

Durante todo o dia se você perder tempo a ver alguns programas da RTP, SIC e T V I   a imagem que mais visualiza é esta:






Se for cliente da Meo (P T) e tiver um problema técnico, no telefone ou na programação da televisão...E telefonar para o ajudarem na resolução do problema.Você paga,  o mais caricato é que você  paga, para ter um serviço a funcionar e tem que pagar ...para ele funcionar em boas condições!
Você vai pagar os telefonemas que fizer...apesar de no seu pacote já estar incluído os  telefonemas.


E o que fazem as entidades reguladoras ....nada!  

Se ligar para os bancos, as Finanças ou outras o mais certo é ser através do 707! A pagar.....!



domingo, 15 de março de 2015

Só e apenas para Recordar!


     Viver e sofrer  durante dois anos, ou mais ! Moçambique

A ida para África, África e seus mistérios, África e a guerra, provocavam, de forma geral, nos jovens na iminência de serem mobilizados, reacções de receio, mas também de curiosidade, Nos  anos 60,  os portugueses tinham de África e da guerra um conhecimento povoado de mitos e fantasias construídos sobre a vida na selva e o contacto com populações estranhas. Em época de informação controlada pela censura e propaganda, e condicionada pela relativa pobreza dos métodos e processos de a difundir, transformar rapidamente jovens europeus, camponeses e citadinos, em soldados capazes de viver e combater nos teatros africanos exigia o recurso a todos os meios, incluindo a arte e o humor.
As Forças Armadas, especialmente o Exército, por ser o ramo que movimentava maior número de efectivos, deitaram mão a esses recursos como complemento da preparação dos seus soldados para a realidade que iriam encontrar e a melhor forma de enfrentar situações em que poderiam ver-se envolvidos. Aproveitando a arte e o engenho de alguns militares, de que se destacam o oficial de Cavalaria Vicente da Silva e José Rui, entre outros que mais tarde obtiveram sucesso como desenhadores de cartoons, o Jornal do Exército publicou, nos primeiros anos da guerra, uma série de «Conselhos aos Soldados no Ultramar», que, embora enquadrados nas actividades de acção psicológica, revelavam apurado sentido de humor e de crítica. Também as páginas humorísticas relativas às missões dos corpos de tropas e às situações vividas nas várias fases da comissão contribuíam para integrar os jovens militares nas realidades que viviam ou iriam viver.
O dia-a-dia dos militares nos quartéis do mato passava-se entre as tarefas de segurança, as operações e a rotina dos longos dias. Excepto nas guarnições sujeitas a grande pressão dos guerrilheiros, os dias cumpriam-se no contacto com as populações, nas permanências no bar, na correspondência com a família, na prática de algum desporto e, por vezes, na caça.
A ideia prevalecente na maioria dos militares era a de que a comissão durava duas vezes 365 dias. A partir da data do embarque, iniciava-se a contagem decrescente até ao regresso. A partir do local onde se encontrava, media-se a distância a que se estava de casa.
Os quartéis portugueses em África reproduziam a cultura de origem dos seus ocupantes, sendo vulgar organizarem-se pequenas explorações agrícolas, onde se cultivavam produtos metropolitanos que melhoravam a dieta alimentar.
As relações com as populações locais eram, regra geral, fáceis e traduziam-se na troca de serviços, dos domésticos aos sexuais, por algum tipo de remuneração, alimentos e tratamentos sanitários.
O correio constituiu caso especial na permanência dos militares em África. A correspondência com a família, as namoradas e os amigos consumia grande parte do tempo disponível dos mobilizados e aliviava tensões que seriam dificilmente suportadas sem esse escape. O Serviço Postal Militar (SPM) organizado pelas Forças Armadas atingiu elevados padrões de eficácia, existindo a noção em todos os escalões de comando de que receber a correspondência regularmente era essencial para manter o moral das tropas. O momento da chegada do correio e a sua distribuição provocava excitação compreensível. Por isso, todos os meios foram utilizados para fazer chegar o saco de lona do SPM às guarnições mais isoladas.   

Nesta imagem em baixo, podem ver o Zé do Rosário, o Pires (de Alvalade), o  Joaquim Luis (falecido) e outro moço de Ermidas, era carpinteiro, também já falecido 


                                   DIA DE CORREIO

No vídeo em baixo, pode ver  o típico quartel  no mato. No tempo, uma viatura  parte com algum pessoal, para ir encher o  tanque de água no atrelado. Os homens, dispersos, exibem as mais diversas combinações de fardamento e, até, a ausência dele. (Não era o nosso caso, 1558, o capitão não era para brincadeiras).....Entretanto, chega o helicóptero com o sempre esperado correio......!
O correio que foi, ao longo dos anos de guerra, um dos factores mais importantes para a manutenção do moral dos homens. Parabéns ao Serviço Postal Militar!
Neste âmbito, o aerograma (na gíria: o bate-estradas) foi uma das criações que melhor serviu os militares. Tratava-se de uma folha de papel amarela ou azul impressa de um dos lados para inscrição dos dados relativos ao destinatário e ao remetente e do outro ao texto. Dobrava-se e não necessitava de envelope nem de selo. 

                                      Clic para ver o video 

quarta-feira, 11 de março de 2015

"O FIM DO IMPÉRIO E O NASCIMENTO DA NAÇÃO"


                

            1º Capítulo:A Beira à beira do fim

                      Parte 1

O horizonte do fim da guerra


No último dia do ano de 1973, o ministro da Defesa de Portugal, Silva Cunha, ao proferir a mensagem de fim de ano, teve a percepção da gravidade da situação política com que o seu governo se debatia ao enfrentar a guerra nas colónias africanas, especialmente na Guiné-Bissau e em Moçambique. Previa que "no ano que se inicia, a vida, não vai ser fácil. O horizonte aparece carregado de nuvens".

Este mesmo sentimento era partilhado pelo então governador-geral de Moçambique, Engº Pimentel dos Santos, que afirmava num dos seus últimos discursos: "não se poderá esconder ou ignorar que 1974 se apresenta como um ano de crise". Expressão da agonia do regime colonial.
Em Moçambique, no alvor de 1974, a  luta armada estendia-se pelas províncias de Cabo Delgado, Niassa e Tete e alargava-se rapidamente a Manica e Sofala, rumo ao sul do país. Acresce que nunca a guerra se havia aproximado de um centro urbano da importância da Beira. Para a FRELIMO, com a aproximação da luta a um >>centro estratégico de desdobramento das tropas coloniais, o inimigo tinha sido ferido num dos pontos mais sensíveis e dolorosos<<.
O governador-geral também reconhecia esta realidade: >>de todas as zonas afectadas, é prioritária a de Manica e Sofala.
A Beira era a segunda cidade do país, com sonhos incontidos e confessos de se tornar a capital do futuro, a par de um sentimento de ser preterida em favor da centralidade e do cosmopolitismo da capital. Era como que um corpo estranho num país em formação.
As particularidades desta urbe eram assim relatadas pelo então jornal da terra , o Diário de Moçambique. >>A vida na Beira tem-se processado sempre em moldes um tanto diferentes daqueles que são normais em terras de Moçambique (..). Criou-se uma certa maneira de ser, determinou-se uma personalidade<<.
Uma cidade de características não tardaria a reagir à aproximação da luta armada nas suas imediações. Já não se tratava de relatos verbais de combates num longínquo Norte, ou na mesma  longínqua província de Tete, era ali mesmo às suas portas, afectando o quotidiano da vida da população, sobretudo e das minorias raciais, mais esclarecidas e convictas da imutabilidade e da invencibilidade do sistema. Para a maioria grassava o sentimento de que a independência já não seria uma quimera. Batia apressadamente à porta.

As famigeradas eleições


A construção do mito da "especialidade beirense" aconteceu no ano de 1958, durante a realização das últimas últimas eleições presidenciais do Estado Novo. nelas confrontavam-se o almirante Américo Tomás, proposto pelo partido de Salazar, a União Nacional, e o general Humberto Delgado, candidato-surpresa e arrebatador, apresentado pela oposição democrática. Contra a corrente e por não se terem viciado os resultados da eleição, na Beira venceu o candidato da oposição. Igual resultado só na cidade angolana de Benguela.

Explicar este resultado eleitoral, contraditório aos princípios ideológicos e sociais do núcleo populacional votante, como resultado do sentimento intrínseco de as cidade ser do contra, não basta. Outras razões haverá.
De acordo com o último censo populacional de 1950-1955, a população da Beira era de 47406 indivíduos, dos quais 9983 de raça branca, 206 de <<negros civilizados>> e 31 667 de <<negros não civilizados>>. Na província de Manica e Sofala foram recenseados  5189 eleitores. Votaram 4042 pessoas. 
No domínio das explicações haverá de ter em conta, o descontentamento dos funcionários públicos que viram os seus salários reduzidos. Ciente do descontentamento o Engº Jorge Pereira Jardim, na época presidente da Associação Comercial da Beira, resolveu ir  a Lourenço Marques, demover os governantes dessa dessa  decisão referente aos salários.A  delegação, foi recebida a 16-01-1958 pelo governador-geral Gabriel Teixeira, mas não teve qualquer êxito. O preço foi pago na boca das urnas.

Deus, Pátria e Família e o São Jorge

Uma segunda explicação é a de que a vitória do general Delgado, houve muito empenho do núcleo da oposição democrática, liderada pelo seu mandatário, o jovem advogado António Almeida Santos, ou nas palavras do comandante da polícia da Beira, capitão de Cavalaria, António Dias Machado.

Quem toma a primeira iniciativa da campanha eleitoral é a oposição democrática, realizando uma concorrida sessão de propaganda realizada a 23-5-58, no extinto cine -teatro São Jorge, na Beira. Galvanizados pela oratória e pelo espírito do bota-abaixo, a multidão dedicou-se a um sapateado tal que se pensou que naquela noite a casa ia mesmo desabar.
A União Nacional teria de responder. No dia seguinte, no exíguo cinema Palácio reúnem-se 200 apoiantes numa sessão que, nas palavras do comandante da polícia, foi fraquíssima de assistência e entusiasmo. O núcleo da oposição não perde tempo. distribui panfletos e coloca na vitrina de uma tabacaria um anúncio em que se dizia << Santo António há-de sair>> numa clara alusão a Salazar. O Delegado da União Nacional pede a prisão do dom o governador geral no da tabacaria. O capitão de Cavalaria recusa.
Os receios eram tão sérios que obrigaram o governador-geral a viajar para a Beira, para dirigir uma nova sessão no final da tarde de 1-7-1958.
A defesa da  família foi feita por Alda Almeida, directora e professora do colégio Luís de Camões, frequentado por  filhos difíceis da classe média e por estudantes provenientes dos distritos da zona centro do país.
A defesa da  pátria e da autoridade coube ao Engº Jorge Jardim.  
   
   Em oratória inflamada, contextualizou o momento, buscando o exemplo da França, que se debatia na crise provocada pela guerra da independência da Argélia.
No seu discurso, Jardim não perde a oportunidade para agitar o fantasma da descolonização: << em África vivemos e sabemos que a unidade e autoridade firme são a única possibilidade de mantermos a nossa presença civilizadora. Que o digam, se o pudessem escolher, os franceses da Indochina.
A defesa da fé, coube ao bispo Soares de Resende. Não a faz no cineteatro Palácio, mas reserva-a para as páginas do Diário de Moçambique. Escreve-se: << não está Portugal diante de nenhum sábio, nem de nenhum santo. Mas o que se pode sem hesitação alguma é dizer que pelo menos um dos dois homens é prudente. A vaidade de um foi contrabalançada pela modéstia de outro e (...) um deles mais do que o outro deu mostras claras e públicas do lugar que lhe merecem as coisas sagradas>> E que coisas separavam os dois candidatos?
O almirante Tomás havia-se deslocado ao santuário de Fátima para orar. O general delgado realizou uma manifestação política em Braga, num dia de tradicional procissão religiosa. Pecado sem perdão.
A propósito da campanha, nesta matéria cite-se um artigo de Almeida Santos, publicado no jornal Notícias : <<saberemos sobreviver à maré viva das tendências anticolonialistas, aos fantasmas das federações económicas, esconjurar as tentativas confessas de ingerência nos nossos assuntos internos, na arrumação da nossa querida casa lusitana>>.

A vingança da PIDE

Para os fieis da União Nacional terá sido difícil digerir a sua inesperada derrota na Beira. Jardim, em nota enviada a Salazar, solicita-lhe uma audiência para analisar << o caso da cidade e do distrito da Beira, no valor absoluto dos resultados (...) pois carece de ser ponderado e referido na sua inteira verdades>>. E os resultados da ponderação não se fizeram esperar.

O encarregado de negócios do Governo de Manica e Sofala, inspector Encarnação Vieira, pagou caro a sua honestidade na contagem dos votos. Obviamente foi exonerado.O governador-geral em relatório final escreve para Lisboa que:  A Beira sente-se infeliz.
O alvo principal não podia deixar de ser António de Almeida Santos. A PIDE congemina estratégia legais para o expulsar de Moçambique. A ele juntam-se os advogados Alberto Moreira e William Pott, Carlos Adrião Rodrigues e Henrique Soares de Melo e o empresário Francisco Saraiva Barreto. Todos eles haviam sido participantes activos na campanha eleitoral de Delgado. Intento nunca esquecido mas não conseguido.
O resultado dessas conturbadas eleições presidenciais, num núcleo populacional de pequenas dimensões, conferiram aos beirenses uma aura política que se propagou nos tempos: terem um posicionamento próprio.


segunda-feira, 9 de março de 2015

A mesma planta que cura, pode te matar!" O Jardim Venenoso


                    



 Muito diferente dos jardins públicos comuns existentes em todo o mundo, existe um jardim tão curioso quanto ... perigoso! Trata-se do Poison Garden (numa tradução livre, Jardim Venenoso), instalado dentro do Parque Alnwick, no Norte da Inglaterra, a cerca de 500 Km de Londres. Inaugurado em fevereiro de 2005, ele foi concebido por Helen Percy, duquesa de Northumberland, que recebeu uma licença especial do governo britânico para cultivar e expor muitas espécies de plantas bem perigosas e até proibidas.


Por trás dos portões fechados do Poison Garden, as visitas são monitoradas e os guias responsáveis compartilham contos de plantas mortais. Mitos e lendas são descobertos, juntamente com fatos da ciência e da história.

Muitas das plantas são bem conhecidas por suas propriedades medicinais, mas existe um detalhe que diferencia tudo, como bem explica a duquesa idealizadora do jardim:
      
    "Eu sempre  perguntava por que tantos jardins ao redor do mundo dedicam-se apenas em focar o poder de cura das plantas ao invés de sua capacidade de matar ... eu sentia que a maioria das crianças estaria mais interessada em saber como uma planta pode matar, quanto tempo você levaria para morrer se a comeu e o quanto horrível e dolorosa a morte poderia ser”.

O Poison Garden é todo cercado por muros e grades e, logo na entrada, um quadro adverte os visitantes: “Essas plantas podem matar”. Mesmo as pessoas que trabalham no local tratam as plantas com o maior cuidado, usando luvas ao manuseá-las. Ali vivem mais de 100 espécies venenosas, alucinógenas e medicinais de várias partes do mundo, como a papoula, a beladona e até a famosa Cannabis sativa (a planta da maconha) cujos exemplares ficam expostos fechados em grandes gaiolas. 
Algumas das plantas são muito belas, apesar de mortais, e outras parecem ser tão inofensivas que é difícil imaginar que apresentem substâncias perigosas, até mesmo fatais.


Plantas que curam, mas que também podem matar fazem parte da coleção, como a mamona (Ricinus communis L.), que produz o famoso óleo de rícino, usado como medicamento há séculos. O lado escuro da planta é que uma única semente pode matar um adulto, de forma horrível. A responsável por isso é uma substância chamada “ricina” que provoca vômitos, convulsões e posterior falência dos rins, fígado e baço.


                                        VICINUS
O Poison Garden abriga ainda plantas que se tornaram famosas por servirem como referência nos livros e filmes da saga Harry Potter, como Wolfsbane, Mandrake e Atropa. No caso, o Wolfsbane, que aparece no filme Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban, foi inspirado no Aconitum lycoctonum, da família Ranunculaceae. A planta possui um alcalóide de nome “aconitina” - um dos mais venenosos que se conhece, cujas propriedades farmacológicas e medicinais são conhecidas desde 1833. A ingestão de uma pequena quantidade pode causar perturbações gastrointestinais graves, mas seu efeito mais perigoso ocorre no coração, onde causa diminuição da frequência cardíaca, podendo muitas vezes ser fatal. O veneno pode ser absorvido pela pele ou feridas abertas e há relatos de pessoas que sentiram mal-estar apenas por cheirar as flores do Aconitum.

Já o Mandrake, usado nas poções dos alunos, é a mandrágora (Mandragora officinarum L.), planta da família Solanaceae, à qual são atribuídas propriedades medicinais, alucinógenas e narcóticas. O uso da raiz desta planta é tão antigo, que é citado nos textos bíblicos em Gênesis e Cantares. Lendas medievais descrevem que as raízes da mandrágora deveriam ser colhidas em noite de lua cheia, puxadas para fora da terra por uma corda presa a um cão preto, pois se uma pessoa tentasse esta tarefa, a raiz emitiria um grito tão alto que a mataria. Em Harry Potter e a Câmara Secreta uma poção preparada a partir de mandrágoras foi usada para ajudar os estudantes que haviam sido petrificados.

                                      Mandrake

E temos também uma poção usada por todos os alunos de Hogwarts, preparada a partir da Atropa (Atropa belladonna) – também da família das Solanáceas, considerada uma das plantas mais tóxicas do mundo ocidental e, ainda assim, muito usada para fins medicinais, no tratamento de úlceras pépticas e cólicas. Esta planta ficou conhecida como baga de bruxas e na Idade Média ganhou fama por fazer parte das supostas poções que as faziam voar.



                                Beladona

A delicada e singela vinca (Vinca major) – aparentemente inofensiva – está presente no Poison Garden. Engana-se quem a julga pela aparência, pois a vinca contém um grupo de alcalóides poderosos como a vincristina e a vinblastina, ambos usados ​​em tratamentos quimioterápicos. Ela tem sido usada para tratar a pressão arterial elevada e controlar sangramentos, porém o uso excessivo pode provocar a hipotensão e colapso.




                                Vinca Major

E o que dizer do belíssimo narciso (Narcissus)? Por trás de tanta beleza, é preciso dizer que a planta inteira é venenosa, mas especialmente os bulbos contêm dois alcalóides, narcissina (lycorina) e galantamina (fármaco usado no tratamento do Mal de Alzheimer), bem como o glicosídeo scillitoxina.


                               Narcissus

Além do aspecto curioso e do visual impressionante, as espécies cultivadas no Poison Garden têm uma mensagem muito importante aos vistantes, que pode ser resumida numa única frase: A mesma planta que cura, pode te matar!"


Fontes :  Poison jardim  e  Poison Garden




domingo, 8 de março de 2015

O SEU NUMERO DE DE IDENTIFICAÇÃO FISCAL. NAS FACTURAS, PODERÁ SER O PRINCIPIO




O  nosso  Numero de Identificação Fiscal, na factura, para  nos  habilitar  a uma viatura de alta cilindrada, será apenas o início….. daqui a poucos anos...será assim: 

Exemplos: - Telefonista: Pizza Hut, boa noite!

- Cliente: Boa noite, quero encomendar Pizzas...

- Telefonista: Pode-me dar o seu NIF?

- Cliente: Sim, o meu Número de Identificação Nacional é o 6102 1993 8456 5463 2107.

- Telefonista:
Obrigada, Sr. Lacerda. O seu endereço é na Avenida Paes de Barros, 19, Apartamento 11, e o número do seu telefone é o 215494236, certo?

O telefone do seu escritório na Liberty Seguros é o 21 574 52 30 e/ou o 21 574 52 30 e o seus telemóveis são o 962662566 e o 964756690, correcto?

- Cliente: Como é que conseguiu todas essas informações?

- Telefonista: Porque estamos ligados em rede ao Grande Sistema Central......

- Cliente: Ah, sim, é verdade! Quero encomendar duas Pizzas: uma Quatro Queijos e outra Calabresa...

- Telefonista: Talvez não seja boa ideia...

- Cliente: O quê...?

- Telefonista: Consta na sua ficha médica que o senhor sofre de hipertensão e tem a taxa de colesterol muito alto. Além disso, o seu seguro de vida, proíbe categoricamente escolhas perigosas para a saúde.

- Cliente: Claro! Tem razão! O que é que sugere?

- Telefonista: Por que é que não experimenta a nossa Pizza Superlight, com Tofu e Rabanetes? Prometo, o senhor vai adorar!

- Cliente: Como é que sabe que vou adorar?

- Telefonista:
O senhor consultou a página 'Receitas Gulosas com Soja da Biblioteca Municipal, no dia 15 de Janeiro, às 14:27 h  e permaneceu ligado à rede durante 39 minutos o que me leva a pensar que gostou do que viu e daí a minha sugestão...

- Cliente: Ok, está bem! Mande-me então duas Pizzas tamanho familiar!

- Telefonista: É a escolha certa para o senhor, a sua esposa e os vossos quatro filhos, pode ter a certeza.

- Cliente: Quanto é?

- Telefonista: São 49,99.€

- Cliente: Quer o número do meu Cartão de Crédito?

- Telefonista: Não é preciso, mas lamento, pois o senhor vai ter que pagar em dinheiro. O limite do seu Cartão de Crédito foi ultrapassado.

- Cliente: Tudo bem. Posso ir ao Multibanco levantar dinheiro antes que chegue a Pizza.

- Telefonista: Duvido que consiga já que a sua Conta de Depósito à Ordem está com o saldo negativo.

- Cliente: Meta-se na sua vida! Mande-me as Pizzas que eu arranjo o dinheiro. Quando é que entregam?

- Telefonista: Estamos um pouco atrasados. Serão entregues em 45 minutos. Se estiver com muita pressa pode vir buscá-las, se bem que transportar duas Pizzas na moto, não é lá muito aconselhável. Além de ser perigoso...

- Cliente: Mas que história é essa? Como é que sabe que eu vou de moto?

- Telefonista: Peço desculpa, mas também reparei aqui que não pagou as últimas prestações do carro e ele foi penhorado, entretanto, como a sua moto está paga, pensei que fosse utilizá-la.

- Cliente: Porra.......!!!!!!!!!

- Telefonista: Gostaria de pedir-lhe para não ser mal educado... Não se esqueça de que já foi condenado em Julho de 2006 por desacato em público com um Agente da Autoridade

- Cliente: (Silêncio)...........

- Telefonista: Mais alguma coisa?

- Cliente: Não. É só isso... Ah, espere... Não se esqueça de mandar os 2 litros de Coca-Cola que constam na promoção.

- Telefonista: O regulamento da nossa promoção, conforme citado no artigo 095423/12, proíbe a venda de bebidas com açúcar a pessoas diabéticas...

- Cliente: Aaaaaaaahhhhhhhh!!!!!!!!!!! Vou atirar-me pela janela!!!!!

- Telefonista: Cuidado que pode torcer um pé, já que o Sr. mora no rés-do-chão..!!!!!!!!!!!!!!!!!



sexta-feira, 6 de março de 2015

Sim....Falar da Guerra dói!






















Quem o diz é Lobo Antunes e eu concordo. Há algumas pessoas.....

 poucas, que ás vezes falam da guerra nas antigas colónias, mas nunca dizem tudo o que passaram, e se falassem, os que nunca lá estiveram não iriam compreender .
Um oficial superior dizia há tempo, que a juventude de hoje não estaria preparada para aguentar uma guerra daquelas. Quando os americanos foram para o Vietname, tinham uma juventude naquele tempo muito próxima da nossa actual e tinham os meios militares no (terreno) que nós nunca tivemos , nem hoje temos e eles não tinham quais queres complexos em usa-los. Correram mundo, as imagens de crianças queimadas, com as bombas que os americanos lançavam. Mas isso não impediu que fossem vergonhosamente derrotados.
É um facto que a guerra colonial deixou marcas em todos os que por lá passaram, nuns mais, noutros menos. Transcrevo um pequeno episódio contado por Lobo Antunes e publicado pela Lusa!

Um dos meus oficiais, que morreu há relativamente pouco tempo num acidente brutal de automóvel, estava um dia numa bomba de gasolina e um carro passou-lhe à frente e ele foi de imediato ao porta-luvas buscar a pistola. Um homem doce.
Mas a primeira reacção emocional dele foi imediata. Era muito difícil elaborar estas emoções..Havia como que uma regressão e voltávamos àquele estado!.......

Há reacções que pensamos já esquecidas que facilmente vêm ao cimo da nossa cabeça!


quarta-feira, 4 de março de 2015

ESTAMOS ESMAGADOS

ESTAMOS ESMAGADOS – Entrevista a Adriano Moreira "A culpa morre solteira" - expressão sua.


                                                                                                                                            Usei-a no Parlamento. É uma prática muito verificável em Portugal, designadamente na crise que estamos a atravessar. Você ainda não viu que alguém assumisse a responsabilidade pelas circunstâncias a que chegámos. Esse é um traço constante, observável em diferentes momentos históricos da vida portuguesa. De onde é que acha que vem esta característica? Em Portugal tudo fia no ar, e raramente há consequências e um sentimento de justiça que o acompanha.1 Acho que devia ter nascido mais cedo e ter feito essa pergunta ao Agostinho da Silva. [riso] Era capaz de lhe dar uma resposta satisfatória. Há, em todo o caso, uma circunstância de que Portugal é vítima neste momento. Normalmente, quando examinamos a vida de um país, há três forças que é necessário avaliar. Uma é a sociedade civil, que neste momento faz manifestações completamente apartidárias, o que é preciso ver com cuidado. São expressões que dizem respeito a sentimentos que unem a população, por razões de queixa fundamentais. Está a pensar na manifestação de 15 de Setembro de 2013? Exactamente. Depois há outra força: o Governo. E finalmente a terceira força: a conjuntura internacional que influencia qualquer país, e cada vez mais face ao globalismo. Uma ordem internacional implica que pelo menos estes três factores tenham uma harmonia de funcionamento. Essa harmonia não existe. Com frequência, aconteceu em Portugal a desarmonia entre o Governo e a população, a desarmonia do país com a conjuntura internacional. Portugal sofreu nos últimos tempos uma evolução extremamente alarmante. Na História portuguesa, o país precisou sempre de um apoio externo. Sempre? O Afonso Henriques pediu apoio à Santa Sé. A Segunda Dinastia pediu a aliança inglesa e pagou caríssimo por ela. No fim do império euro-mundista o único apoio que restou foi a União Europeia. Esta evolução mostra que o país (na ligação com o mundo) é muitas vezes exógeno. Quer dizer: sofre as consequências de causas em que não participou. Um exemplo: a Guerra de 14/18. Portugal participou nas causas? Não. As consequências, quer em Moçambique, quer em Angola, quer na Flandres [foram enormes]. Começou a ser evidente que o país tinha evoluído para um "estado exíguo". (Escrevi um livro com esse título há anos, dizendo que a relação entre os recursos do país e os objectivos do país é deficitária.) Várias pessoas com responsabilidade na vida pública avisaram que este declínio estava em marcha. Quando essa equação (recursos-objectivos) chegou à situação de desastre em que nos encontramos, o país ficou em regime de protectorado.2 Um regime sobretudo imposto pela situação financeira? Sim. Os países têm uma espécie de hierarquia internacional - é por isso que o Conselho de Segurança tem as superpotências. Para terem essa hegemonia precisam de ter um poder que abrange o poder militar, estratégico e financeiro. Quando esses poderes começam a afastar-se, a hierarquia começa a diminuir. Os Estados Unidos estão a ser atingidos por isso. Portugal (últimas notícias sobre as restrições nas forças armadas) mostra que nessa relação (poder militar-poder financeiro) a nossa debilidade é extrema. É isso que justifica a situação de protectorado em que o país se encontra. As outras debilidades evidentemente atingem o país de um modo mais previsível. Soluções? Remédios? Em primeiro lugar é preciso restaurar um valor importante: o da confiança. A confiança entre a sociedade civil, Estado e conjuntura internacional está profundamente atingido. Parece-me que tem havido uma certa dificuldade, da parte do Governo, em compreender que há uma diferença entre a legitimidade eleitoral, que justifica a tomada de poder, e a legitimidade do exercício [de poder], que começa a ser avaliada no dia seguinte [à tomada de posse]. Esta legitimidade para a execução não é uma coisa para entretenimento das estatísticas de popularidade. Está a dizer que tem de haver uma correspondência com aquilo que foi o programa eleitoral. E com a autoridade que foi conferida. Não é só em Portugal que esse valor está em crise. O novo-riquismo que orientou a gestão europeia, e que levou a Europa a esta situação, já se traduziu no seguinte: a fronteira da pobreza, que ainda no século passado os relatórios da ONU situavam a sul do Sahara, ultrapassou o norte do Mediterrâneo. Portugal está na área de pobreza. Como está a Espanha, a Grécia, a Itália; a França já começa a dar sinais disso. Os países mediterrânicos são os que mais têm sentido esse espectro de pobreza, são os que estão mais vulneráveis à crise, Porquê? A hierarquia de capacidades, não apenas financeiras, mas científicas, técnicas, a eficácia de governo e de iniciativa económica - tudo isso faz que sejam ressuscitadas fracturas europeias. Não é de hoje a opinião que a senhora Merkel tem sobre o sul. Se bem me recordo, há um texto do Guizot [primeiro-ministro francês em 1847] que quase emprega as mesmas palavras para o dizer. O que considero errado é considerar que esta crise é uma crise puramente europeia. Se a comunidade europeia deixar aprofundar as quebras de solidariedade que já se verificam, a Europa arrisca-se a não ter voz no mundo. A crise é ocidental. E o ocidente todo que está num período de decadência.

Isso deve-se, sobretudo, à emergência da China, dos BRlC? Há uns que perdem capacidades e outros que a adquirem. Não necessariamente com culpas. A Alemanha, que foi responsável pelas duas guerras mundiais que destruíram muitas das capacidades europeias, teve, entre outras coisas, a benesse de estar dispensada de despesas militares durante anos. E todos colaboraram, incluindo os povos do sul, na defesa do Muro para impedir que a República Federal fosse atingida pela [força política] a que o Leste estava submetido. Nos cemitérios da Normandia, as sepulturas são de soldados americanos. Não são de soldados alemães. Portanto, estas solidariedades, a Alemanha teve-as. Como teve quando se tratou da reunificação das duas Alemanhas, após a queda do Muro. Exactamente. Mas se a nossa crise é uma crise global, quem é que já convocou o Conselho Económico e Social das Nações Unidas? Ninguém. Quem é que deveria tê-lo feito? Qualquer membro interessado. Na Europa existe uma subjugação à Alemanha? A orientação da chanceler Merkel é grandemente responsável pelo destino actual da Europa? Ela - [Alemanha] -, a responsabilidade, é evidente que a tem. O que é discutível é que a percepção que tem da evolução da Europa coincida com o projecto dos fundadores. Atribuo aos fundadores da União Europeia uma espécie de [estatuto de] santidade. Esses homens enfrentaram a guerra, a destruição dos seus países, transformaram o sofrimento em sabedoria, e disseram: "Vamos criar condições para isto nunca mais acontecer". Schuman e Adenauer, sobretudo esses tiveram esse espírito. Não podemos esquecer Jean Monet. Nas memórias, escreve que, se fosse hoje (quando estava a escrever), teria começado, não pelo comércio, mas pela cultura. Porque a crise de valores era extraordinária. Essa crise é que afecta as solidariedades, e faz que, mesmo num ponto de vista internacional, a governação ande entregue a órgãos que nenhum tratado criou - caso do G-20 - ou a órgãos que parecem transformar as Nações Unidas num templo de orações a um deus desconhecido. A ONU está destituída de poderes e de importância? Acho que a ONU está numa crise enorme. Precisa de uma remodelação. A começar pelo Conselho de Segurança que já não corresponde, de maneira nenhuma, às condições em que vivemos. As potências, qualificadas de superpotências, com direito de veto, também têm a sua crise - incluindo os Estados Unidos. Mas para a Europa é importante saber porque é que a França e a Inglaterra têm direito de veto. Que poder é que [estes países] têm em relação ao mundo? Uma das reformas que seria útil fazer seria pôr no Conselho de Segurança países que, pela sua dimensão, são efectivamente necessários lá, e regionalismos. Era a Europa que devia estar no Conselho de Segurança e não a França e a Inglaterra. 4 Há cerca de um ano assinalaram-se os 5O anos do Tratado Franco-Alemão. É extraordinário pensar como este "longínquo" projecto europeu se esgotou. Na sua génese, estava uma ideia de solidariedade e de desenvolvimento harmonioso que promovesse o equilíbrio entre as diferentes partes da Europa. Acha inevitável que se faça uma refundação de toda a Europa? Esse projecto assinado há 50 anos pode ainda ser afinado e recuperado? Na base de qualquer projecto destes tem de estar um princípio. O princípio da unidade europeia é muito antigo. Continuo a ter admiração pelo conde Coudenhove-Kalergi, que parecia ter nascido para o internacionalismo. Todos os grandes líderes europeus depois da Guerra estiveram nos congressos que promoveu. (Ainda hoje existe uma fundação Coudenhove-Kalergi a que pertenço; já lá não vou). Esse homem falava na federação europeia. E claro que a palavra "federação" tem muitos sentidos, e isso não significava que ele tivesse o modelo final. Significava que tinha de se caminhar, como sempre entenderam os projectistas da paz (é preciso sempre falar do Kant). Tinha que haver uma gestão solidária, comum, da Europa, que está mais ligada por valores do que por etnias, pela língua, pela cultura, que são variadas mas que têm um tronco comum. Não temos dúvidas quando dizemos que somos europeus. Essa pertença é ainda herdeira dos valores da Revolução Francesa? É a famosa trilogia liberdade, igualdade, fraternidade que nos guia e que define o tronco comum? Não é só isso. Esses valores são um produto da evolução do espírito europeu. "Todas as pessoas nascem com igual direito à felicidade", mas os índios não, os escravos não, os trabalhadores não, as mulheres não... Foi preciso uma grande luta [para efectivar estas conquistas]. Mas sempre a partir do tal paradigma. Esse conjunto de valores é que dá identidade à Europa. A Europa que teve a ambição de europeizar o mundo... - daí o império euro-mundista que morreu o ano passado. Essa circunstância tem uma consequência importante: a redefinição (a ideia de refundação é muito ambiciosa) desses valores. O principal deles é a soberania. E o direito a certas prestações que o Estado deve fornecer ("le droit aux prestations", como dizem os franceses) - o Estado Social. Há uma coisa curiosa na vida [das nações] (na vida das pessoas também): mantêm a convicção do poder quando já não o têm. Ou seja, funcionando Portugal num regime de protectorado, não temos o mesmo poder nem a mesma soberania. Não, não temos. Nem temos o que está previsto no Tratado Europeu. Fomos vítimas do facto de sermos um estado exógeno. Também fomos vítimas de mau governo, [dito em tom irónico] Sem culpas, sem culpas... Mas queria dizer-lhe alguma coisa de esperança. 5 E voltamos à palavra antiga que usou: remédios. Há remédios? [riso] Acho que há. Em primeiro lugar, olhar para o país na situação actual e ver quais são os factores da redefinição da soberania de que precisamos. Não é só a segurança que diz respeito às forças armadas e à segurança interna. Há um elemento da soberania que é fundamental: o ensino e a investigação. Uma das razões da mudança de centros (entre os países emergentes e os que estão a descer) é que talvez tenha sido esquecido que não há fronteiras para a circulação do saber e do saber fazer. Hoje, a Alemanha parece que tem um bom mercado para os seus excelentes automóveis na China. Não me admira que daqui a algum tempo seja a Alemanha a comprar os automóveis à China. Um país que quer manter-se na competição global precisa de um ensino e de uma investigação que lhe permitam utilizar o saber e o saber fazer. Em Portugal, era preciso que se continuasse a investir na investigação científica, na qual nos temos destacado nos últimos anos? Sim. A minha vida tem sido quase toda na universidade. O que ouvi recentemente foi um conselho, [um apelo à] emigração. Há cursos de tal qualidade (sobretudo na área da Economia e da Gestão) que se orgulham que os seus diplomados, mestres e doutores emigrem e sejam muito bem recebidos lá fora. Eu não me sinto feliz que vão trabalhar por conta de outrem, para outro país. Queria era que tivéssemos condições para que aqui ficassem, e fizessem do país um país capaz de competir. Esta vaga de emigração que agora temos. É de alta qualidade. Nada tem que ver com a vaga dos anos 50 e 60, essencialmente constituída por força braçal e iletrada. É uma força altamente qualificada. Se os melhores se vão embora... As contribuições de jovens cientistas, em especial da Universidade do Minho e da Universidade de Aveiro, sim, ajudam o país a recuperar uma posição no mundo concorrencial em que estamos. E ajudam a recuperar confiança. Alento. Sim. Por isso sempre sustentei que ensino e investigação é um problema de soberania. As propinas são taxas do Direito Financeiro. Não são o preço do serviço que o professor presta ao aluno. Diz respeito ao interesse do país que isso se faça. Temos outras janelas de liberdade para o país. A meu ver, há duas principais. Uma é a CPLP. A língua portuguesa como património, como motor, como tesouro? Não é só a língua E a maneira portuguesa de estar no mundo. É mais do que a língua. Da língua, o que digo é que a língua não é nossa - ela também é nossa. Mas os valores que a língua transporta, porque a língua não é neutra, esses valores não são iguais em todos os países onde se fala português. A maneira portuguesa de estar no mundo, o Brasil soma valores indígenas, africanos, alemães, japoneses, italianos... A CPLP é um caso único. A França que teve uma importância tão grande no norte de África, e naquele bocadinho do Canadá, não tem uma CPLP. 6 A Espanha também não. E [a constituição da CPLP ainda é mais significativa] depois de uma guerra de tantos anos [com os países que a constituem]... O que significa que o conflito era com a forma de governo, não era com o povo português. Angola, Brasil e Moçambique estão a crescer, mas todos têm grandes assimetrias entre ricos e pobres. É. Acho que a CPLP precisa de grande atenção. A universidade deu por isso: há uma associação das universidades de língua portuguesa. A última vez que reuniu foi em Bragança, 400 pessoas. Outro problema: o mar. A terra que não se pisa e a água que não se navega não são nossas. Lembro-me sempre da reunião de D. João I com os filhos. Como foi essa reunião? Tanto quanto a minha memória me diz, das leituras de há tantos anos, juntaram-se para discutir o que é que haviam de fazer para se expandir. Havia quem entendesse que a expansão devia ser para a Andaluzia. Os rapazes [os infantes] disseram: "Não. Tivemos uma guerra com Castela que durou anos, agora estamos em paz. Castela considera que a sua zona de expansão natural é a Andaluzia. Se formos para aí, vamos ter guerra outra vez". Então para onde? "Para o mar." Discutiram. Os recursos, o saber, as armas, os navios, tudo. Definiram um conceito estratégico nacional. Portugal tem uma posição estratégica privilegiada, mas não um Conceito estratégico nacional. Mesmo agora está a ser discutido um documento sobre defesa e segurança Fui ouvido. A minha primeira pergunta foi: defesa e segurança de quê? Falta o conceito estratégico. Ser uma plataforma continental é outra janela de liberdade. Se nos for reconhecida pelas Nações Unidas, será a maior plataforma continental do mundo. O reconhecimento estava previsto acontecer em 2013. Agora já se fala em 2015. Não gosto disto. Esta plataforma é uma riqueza incomensurável. Vi uma notícia sobre a intenção da União Europeia de redefinir o mar europeu. Lembrei-me de 1890. Nós também tínhamos a ideia de Angola à Contra-Costa e depois veio o Ultimato [Inglês]. Se definem o mar europeu antes de definir que a plataforma é nossa, provavelmente todos os países da União Europeia vão considerar-se co-proprietários. Devíamos apressar isto. E meios, e força, e dinheiro para apressar isto? O financiamento é um problema, naturalmente. Aí precisa de uma esplêndida diplomacia. A nossa é boa. E equivalente à do Vaticano!, com a diferença de a do Vaticano ser ajudada pelo Espírito Santo, [riso] Está a pensar especificamente no actual ministro dos Negócios Estrangeiros? Também no nosso ministro, mas a nossa diplomacia é muitíssimo boa. E muitas vezes trabalha sem instruções. É o amor à Pátria, é o que [é considerado] o interesse nacional, e lá vão. Acho que isto faz parte do futuro de Portugal. Usou a expressão "janela de liberdade", e não "janela de oportunidade", que é uma expressão que agora se usa muito. Não é a mesma coisa. 7 Não, não é. As pessoas acham que, porque pertencemos à União Europeia, tudo tem de ser feito de acordo com a UE. Eu digo: "Não, não. Há um espaço de liberdade. A França: aquela gendarmerie que manda para África, para explicar o que é a democracia, não tem nada a ver com a UE. Tem a sua liberdade". Temos de ter a nossa. Temos de cumprir com os tratados da União, mas a União não nos impede que tenhamos um espaço de liberdade. A CPLP é a nossa liberdade. Por isso prefiro a palavra "liberdade". Essa liberdade já vem ligada a uma espécie de posse. A oportunidade é outra coisa. E preciso [para essa oportunidade] ainda um outro esforço. Este Governo que temos vai para dois anos está desapontado? Têm sido crítico nas intervenções públicas que tem feito. Esperava mais? Devo dizer que desapontado estou com a Europa. Depois estou desapontado com a solidariedade atlântica. (Os efeitos colaterais do abandono dos Açores são enormes do ponto de vista económico para o arquipélago.) Neste Governo, há uma coisa que me incomoda: o objectivo fundamental é o Orçamento. Uso a expressão "ministro do Orçamento". Ministro ou primeiro-ministro? Ministro do Orçamento, e não ministro das Finanças ou primeiro-ministro. O ministro mais importante é o do Orçamento. Portugal não está refém do Orçamento, ou seja, do cumprimento do memorando da Troika? O estar preso pelas obrigações financeiras internacionais é evidente que exige que essas obrigações sejam assumidas. É isso que restaura a confiança e que restaura a igualdade internacional do país (e que elimina o protectorado). Mas se fosse um caso isolado, a nossa debilidade seria maior. Não é o caso. O caso é que a fronteira da pobreza atingiu a Europa, como disse. A solidariedade do espaço, que é um princípio que está em vigor, implica que a situação real dos países tenha de ser avaliada. Não é com fórmulas aritméticas que se governam os países. E não é um favor que fazem. É uma dedução do princípio da solidariedade. Já viu algum médico tratar todos os doentes com o mesmo remédio? Nunca viu. O remédio não é igual para todas as situações. A situação de cada país precisa concretamente de ser avaliada. Portugal não está na mesma posição que está a Inglaterra ou a França Os países com que nos comparam não são esses. Portugal quis comparar-se com a Grécia, para dizer que não é a Grécia. Que é o bom aluno, cumpridor. Mas estão todos em pé de igualdade com a Alemanha e a França no que respeita a direitos e obrigações dentro da UE. Se há o princípio de ajuda mútua na UE, tão obrigada [a isso] está a Alemanha como estamos nós. Quando chegam as dificuldades queremos ser tratados como os outros. Voltemos à apreciação a este Governo. Falta-lhe conceito estratégico, dizia. Falta conceito estratégico. E é evidente que a gestão neoliberal do Governo está a destruir o Estado Social. O Estado Social, uma conquista do ocidente, é uma convergência do socialismo democrático, da doutrina social da Igreja e 8 até do manifesto comunista de Karl Marx. (As palavras têm uma força tremenda. Às vezes falo do poder da palavra contra a palavra do poder.) Na Constituição portuguesa o Estado Social é uma principiologia. Não é uma regra imediatamente imperativa. O que diz é: na medida da possibilidade. E estranho que se transforme uma principiologia numa rejeição. Não se devem rejeitar princípios, em especial princípios que levaram séculos a ser desenvolvidos e a ser incorporados na cultura da população. Nesse aspecto, tenho uma certa apreensão e falta de confiança no entendimento da real situação portuguesa. E não posso considerar que o Orçamento seja o elemento fundamental. Os que estão já numa situação de pobreza, juntos, têm força suficiente para dar um murro na mesa [e exigir] que os princípios da UE sejam respeitados. Estamos na iminência de uma revolução em Portugal, justamente porque esses  que apontou, juntos, já são capazes de dar um murro na mesa? Tenho admirado a maneira ordeira e não-partidária com que as reacções se têm verificado. Mas penso que a população portuguesa atingiu o limite da pressão fiscal. Quando vemos os suicídios, as mães que se atiram da janela com os filhos para não os deixar cá, quando as coisas chegam a estes extremos, lembro-me disto: a fome não é um dever constitucional. Sabido isto, a inquietação aumenta dia-a-dia Não preciso de dizer mais palavras. Isto que estamos a viver tem algum paralelo com alguma coisa que tenha vivido nos seus 90 anos? Não. É a situação mais deprimente que vivi na minha longa vida. As condições de vida eram diferentes. E mais difícil [agora] perder [determinadas] condições de vida As condições não eram as desejáveis, mas as pessoas não sofriam tanto. Porque havia a... "vida habitual". Embora a culpa morra solteira, a sociedade civil não é a que tem mais responsabilidades. Estamos esmagados. Pagamos as dívidas que o novo-riquismo do Estado desenvolveu (não tenho de fazer distinção entre partidos).Temos de pagar as dívidas das câmaras, dos institutos que o Estado multiplicou, e o que sobeja, e que não pode ser o último dos interesses, é a vida de cada ser humano. A dignidade tem de ser igual. A Europa sabe isto. É por cegueira que os políticos não aterram nisso que diz? Vou dar-lhe um texto do Padre António Vieira [que responde]: "Ministros da República, da Justiça, da Guerra, do Estado, do Mar, da Terra. Vedes as desatenções do governo, vedes as injustiças, vedes os sonhos, vedes os descaminhos, vedes os enredos, vedes as dilações, vedes os subornos, vedes os respeitos, vedes as potências dos grandes, e as vexações dos pequenos, vedes as lágrimas dos povos, os clamoroso e gemidos de todos? Ou os vedes ou não os vedes. Se os vedes, como não os remediais? E se não os remediais, como os vedes? Estais cegos." Que é que acha? O que o Padre António Vieira escreveu em 1669 o que podia ser escrito hoje. Esta é a nossa sina? 9 Se isto nos acontecer mais vezes, pode ser que a gente, quando vier para a rua traga o papel e mude. Porque é que o seu discurso está muito mais esquerdista do que eu imaginaria? Porque você tem uma imaginação pequena. Vamos lá ver. Nasci numa família muito pobre. Sei muito bem como é que vivem os pobres. Descrevi isso num livro de memórias que publiquei. Éramos felizes - engraçado. Havia uma solidariedade. O que fiz [politicamente] não obedece a esquerda ou a direita. Obedece à escala de valores que aprendi em criança. Uso muitas vezes a expressão: os valores são o eixo da roda. A roda corre todas as paisagens. O eixo acompanha a roda, mas não anda. Quando fui presidente do CDS, disse: "Este partido tem que assumir a obrigação em relação aos pobres". Parece-lhe muito de direita? 


       Anabela Mota Ribeiro

segunda-feira, 2 de março de 2015

As Crónicas da Guerra em Moçambique.Retirado do livro Dias de Coragem e de Amizade!..


Com a guerra aberta em Angola e na Guiné, o governo de António Salazar sabia que era apenas uma questão de tempo até o "terrorismo" se estender a Moçambique. Era nesta província ultramarina que se concentrava a nata dos colonos portugueses. A maioria tinha mais instrução do que aqueles que optavam por emigrar para França ou Angola e o número de homens era semelhante ao de mulheres.
O receio do alastramento da guerra levou as autoridades a intensificarem a repressão policial aos contestatários do regime. O conforto mais relevante ocorreu em Mueda, a 16 de Junho de 1960. Milhares de agricultores exigiram melhores condições de vida e foram massacrados.
E foi por pressão de Julius Nyerere, da Tanzânia, que os movimentos dispersos acabaram por se fundir, a 25 de Junho de 1962, em Dar-es-Salam, numa única organização, a Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), liderada por Eduardo Mondlane.
Antigo estudante universitário na África do Sul e em Lisboa, Mondlane acabou por imigrar para os Estados Unidos onde deu aulas na Universidade de Columbia e onde trabalhou no secretariado da ONU.
O primeiro presidente da FRELIMO tornou-se uma figura carismática.
Os primeiros grupos de guerrilheiros, treinados na Argélia, começaram a entrar em Moçambique, vindos da Tanzânia, em Agosto de 1964.
Nesse mesmo mês, a FRELIMO fez a sua primeira vítima, o padre de Nangololo, segundo o relatório do BCAÇ 558 de 24 de Agosto.
A 24 e 25 de Setembro, a FRELIMO lançou ataques na zona de Mueda. Ao mesmo tempo, no Niassa, eram atacados o posto de Cóbué e, no lago, a lancha "Castor".
Ao contrário do que aconteceu em Angola, os primeiros confrontos não fizeram vítimas entre os colonos. A esmagadora maioria estava fixada no litoral, em Lourenço Marques e na Beira, onde a vida prosseguia normalmente, sem o mínimo contacto com a violência. Isto também facilitou a progressão da FRELIMO que, sem resistência, alargou a sua acção para sul.


A primeira contra as forças portuguesas acabou por acontecer apenas a 16 de Novembro, num ataque ao posto de Muidumbe, na região de Xilama.
A diplomacia portuguesa soube jogar as suas peças. Em troca da cedência à França de uma base na ilha das Flores e da base de Beja à Alemanha, os governos de Paris e de Berlim vendiam a Portugal as munições e o armamento necessário à manutenção do controlo das "províncias ultramarinas". Só na década de 1960, a Alemanha vendeu a Portugal 226 aviões de combate. 

Em África, o governo de Salazar criou uma série de "entendimentos" regionais. Primeiro com o regime Ian Smith, que a 11 de Novembro de 1965 proclamou a independência da Rodésia. O resultado foi o bloqueio do porto da Beira pela armada britânica, em Janeiro do ano seguinte, para impedir o fornecimento de petróleo à Rosário. Problema que foi contornado com esse mesmo abastecimento a ser feito através da África do Sul. A passagem de guerrilheiros da FRELIMO da Tanzânia para o Malawi e daí para território moçambicano também foi resolvida. Jorge Jardim, uma espécie de agente secreto do governo, chegou a acordo com o presidente Hasting Banda, para formar unidades especiais comandados por portugueses, no Malawi, e também para criar uma força naval no Lago Niassa,....também ela dirigida por oficias portugueses. Ler a crónica de Francisco Manuel Lhano Preto.
Ainda assim, a componente militar não foi descurada. No final de 1964 Portugal, com  mais de 84 mil soldados distribuídos pelos três teatros de guerra. Em Moçambique...18 mil  número que viria a aumentar até aos 51 mil em 1973.
Os guerrilheiros, a partir de 1969 liderados por Samora Machel, actuavam em pequenos grupos, faziam emboscadas e minavam estradas e pistas. Eram mesmo as minas os piores inimigos das tropas portuguesas.
Apesar de ter sido o território com menos anos de conflito, foi em Moçambique que as tropas portuguesas tiveram o maior número de amputados: 697, contra 480, em Angola e 540 na Guiné. As estatísticas oficiais dizem que 1481 militares morreram em combate, 234 em acidentes, com armas de fogo, 467 , em acidentes de viação e 780 por outras causas. Ao todo,morreram  em Moçambique, 2962 soldados e foram feridos 3455.
Com o 25 de Abril de 1974, Lisboa entregou os territórios ultramarinos aos movimentos de libertação
A guerra em África terminou para os portugueses. Só para começar um novo conflito, desta vez entre africanos.

                                     1ª Crónica


FRANCISCO MANUEL LHANO PRETO

 DESTACAMENTO DE FUZILEIROS ESPECIAIS Nº 9
COMISSÃO:1971-1973
COMISSÃO ESPECIAL:1973-1974
Deixei de ser o Francisco Preto e passei a ser o Mr.Lhano
 No final da primeira comissão,foi convidado para para participar numa missão secreta no Malawi:comandar a Marinha no Lago Niassa.Durante mais de um ano viveu como um inglês incorporado nas forças do regime de Hastings Kamuzu Banda.Até que foi preso depois do 25 de Abril.

Cheguei a Moçambique em 1971.Era o 2º Comandante do Destacamento de Fuzileiros Especiais nº9.Nos dois anos de comissão só tivemos um morto.
No final da minha primeira comissão,fui convidado para participar numa comissão especial já em curso:a criação da "Marinha do Malawi".Quando precisava de se deslocar para sul do lago Niassa,a Frelimo saía da Tanzânia e entrava em Moçambique através do Malawi.Era preciso controlar o Lago.Foi o que fêz o CEMA da Marinha,o Almirante Reboredo e Silva,através de negociações com o governo malawiano.Aceitei a proposta,o ministro da Marinha deu-me baixa de serviço e assinei umcontratocom o Jorge Jardim,que era o cônsul do Malawi na Beira e tornei-me o comandante da Marinha do Malawi,no Lago Niassa.Na altura era segundo tenente e auto promovi-me a "Captain",com três riscas iguais às de Mar-e -Guerra inglês.estavam comigo mais um oficial,três cabos e dois marinheiros que foram promovidos a sargentos.
Este processo não só ajudou a controlar os guerrilheiros,como também resolveu o problema do transporte de combustível para a base de Metangula.Quando lá cheguei já tinha sido feito um contrato com a OILCOM,que nos fornecia combustível através do lago.Para o transporte,íamos a Dakota numa lancha de desembarque,que tinha sido transformada e pintada com as cores da SONAP,uma empresa de combustíveis.
Além das informações precisávamos,essencialmente,de controlar o lago Niassa.Por isso,Portugal cedeu três lanchas.Duas de combate,a JOHN CHILOMBWE (antiga CASTOR) e a CHIBISA ( antiga RÉGULUS),e uma mais pequena de treino e pesca,a LIMPASA.
Nós estávamos a maior parte do tempo em NKHATA BAY,onde tínhamos a base naval e em MONKEY BAY,que era mais sossegado.Havia lá um motel e um restaurante que foi comprado por um sul-africano que, a meu ver ,era espião.Foi ele que me disse que tinha havido o 25 de Abril.Como já vinha ouvido nas rádios, outras tentativas de golpe,muitas delas inventadas pela Frelimo,continuei a patrulhar e fui para norte.
Uns dias depois,como ninguém se entendia em Portugal,eles quiseram saber o que se ia passar.E perguntaram-me: Como é?Porque nós é que dominávamos o lago.Eles tinham umas lanchas pequenas,atribuídas à polícia,mas as grandes,com armamento pesado e metralhadoras,eram as nossas.Só que nessa altura quem é que sabia em Lisboa o que se passava no Malawi e que nós estávamos em missão secreta?Tive de resolver o problema e garantir que iria manter a esquadra mesmo que houvesse problemas em Portugal.A coisa aliviou.Mas depois o presidente BANDA disse à polícia para me levar a BLANTYRE.

No Malawi ...isso significa prendam esse gajo e tragam-no.Assim foi.Nesse fim de tarde estava com a JOHN CHILOMBWE fundeada e a LIMPASA atracada ao lado, quando comecei a ver indivíduos fardados de polícias a entrar nas lanchas sem autorização.Vinham com o pessoal da minha guarnição.Entrámos em negociações.Combinei que ia com eles,mas que a LIMPASA saía logo para Moçambique.Depois de falar com Metangula dei ordens para a JOHN CHILOMBWE zarpar no dia seguinte com a guarnição se eu não voltasse.
No caminho para Blantyre,parámos para almoçar em LILONGWE.Fui à casa de banho e pedi à recepcionista, para me ligar para o número do Embaixador Português.Atendeu-me sua esposa ....quando cheguei a Blantyre,as coisas já estavam mais ou menos conversadas.
Depois disso,o comandante-chefe mandou-me ir a Moçambique.Eu tinha contrato até 15 de Junho,mas eles pediram-me para continuar mais tempo.Fiquei só com um cabo e o Berbereia Moniz.Quando regressei,o governo do Malawi tentou convencer-me a permanecer lá depois da independência de Moçambique.Quando estive em combate recebia uns cinco mil escudos mensais.Ali ganhava 25 mil,mais sete mil KWACHAS para despesas.
Com as negociações para a entrega de Moçambique à Frelimo,foi decidido que as nossas lanchas ficavam no Malawi.Então em Julho fui a Blantyre para a entrega oficial e depois deveria regressar a Moçambique.Na véspera ao telefone, com o Embaixador ...disse-me:amanhã esteja às 07H00 na embaixada ,para tirar um passaporte Português, porque às 15H00 vamos cortar relações diplomáticas com o Malawi. Claro que já não houve entrega nenhuma.
Nós deveríamos regressar a Moçambique numa lancha Portuguesa que em princípio iria transportar um jeep,que seria entregue ao Malawi e trazer de volta as armas pesadas da JONH CHILOMBWE e da CHIBISA.

Em Moçambique tiveram a informação que tínhamos sido presos.Por isso,foram preparados para tudo,Estávamos em Monkey Bay ,a 27 de Julho,quando vimos uma quantidade de fuzileiros a colocar os zebros dentro de água.Fizemos sinal e eles perceberam que estava tudo bem e desembarcaram como se fosse uma coisa pacífica.Acabámos por entregar as lanchas mesmo ali e voltar para Moçambique.Sem mais cerimónias.