O “Zé do Telhado” de Alvalade

                                                                                                                       
Estávamos no ano de 1935. Em Alvalade, uma boa parte da população tinha sido infectada pelas sezões (paludismo). Num velho casebre, Francisco Lúcio, a mulher e os quatro filhos agoniavam deitados no chão, em esteiras, ardendo de febre e famintos. Havia tempo que nada comiam… Joaquim Algarvio foi visitar a família, e saiu com a alma roída ao ver tanto sofrimento e miséria. Custou-lhe ver aquela família naquele estado, e isso não lhe saia da cabeça. Só pensava no que poderia fazer para ajudar aqueles desgraçados… Tanto pensou e deu voltas à cabeça que acabou por encontrar uma forma de os ajudar. Pela calada da noite abalou direito ao Monte Novo para roubar algumas galinhas. De volta à vila com o “saque”, levou umas quantas aos amigos esfomeados e doentes, e as restantes foi vendê-las ao tio Vieira. Com o dinheiro comprou remédios para a família do Francisco Lúcio. Mas, para sua infelicidade, foi descoberto e denunciado à GNR. No dia seguinte, o Joaquim Algarvio foi preso e levado a pé entre dois guardas a cavalo até Santiago. Ao fim de um mês de prisão, foi julgado. Depois de ouvir as testemunhas de acusação e de defesa, o juiz decidiu e declarou: “O réu roubou e vai ser condenado”. Na sala do tribunal, os seus algozes, que o denunciaram e foram testemunhas de acusação, soltaram um sorriso de satisfação como que dizendo “(…) vais apanhar uns bons anos e servirás de exemplo”.

O juiz continuou a ler a sentença… “(…) vai ser condenado a um mês de prisão.Felizmente já cumprida com a minha admiração pelo acto que praticou, lembrando o Zé do Telhado que roubava aos ricos para dar aos pobres. Vá em paz”.

            

_José do Rosário

Honrar compromissos é só com os muito ricos?

                   Joana Amaral Dias -Professora  Universitária IN Correio da Manhã
                                                                                                                                     Os velhacos. Honrar compromissos é só com os muito ricos? 26.05.2015 00:30 Uma sociedade que não respeita os mais velhos não respeita a sua história e a sua memória, as suas origens, quem lhe deu vida e futuro. Não se respeita. Não é uma sociedade, são as cavernas, a lei do mais forte e a da selva. Pelos vistos, é o projeto de país de Passos Coelho, & Cª, e mesmo António Costa, que não param de atacar as pensões e tratam os nossos velhos como se fossem velhacos. Vejamos – a Segurança Social está, sobretudo, ameaçada por esta permanente instabilidade e pelo desemprego. Por outro lado, tanto se pode falar da sua sustentabilidade como da sustentabilidade da justiça ou da marinha quando, na verdade, devíamos discutir a dos bancos. Por fim, não se pode continuar a rescindir unilateralmente o contrato com quem trabalhou toda a vida, descontou e espera, legitimamente, uma certa reforma, enquanto se mantêm todos os contratos milionários das PPP, dos swaps, etc. Então, honrar os compromissos é só com os muito ricos e nunca com os remediados e com os muito pobres? Estamos conversados. 

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