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terça-feira, 30 de setembro de 2014

Histórias de Guerra (África Moçambique)

      
                         As minas anti- pessoais e o receio de as pisar!

Não desertei! Saí da tropa de cabeça erguida
:
Fui testemunha da incompetência dos altos comandos na condução da guerra em Moçambique. Optei por uma actuação independente e acabei por desobedecer 


O antigo furriel Francisco Raposo recordou nestas páginas a partida do Batalhão de Caçadores 1937 para Moçambique, em finais de 27 Outubro de 1967 : 'O comandante da minha companhia era o capitão Verdasca – mas, nas vésperas do embarque, desapareceu: correu na altura que ele desertou para fugir à guerra' – disse Francisco Raposo.    

Não é verdade! Em 1965, já tinha requerido a minha demissão do Quadro Permanente. Informaram-me então que a demissão só seria possível ao fim de oito anos de oficial. Não tive outro remédio que não fosse esperar – para sair de cabeça erguida. Perfiz os oito anos necessários e deixaram-me sair. Quando o Batalhão de Caçadores 1937 seguiu para Moçambique, já eu tinha sido demitido do Quadro Permanente.


Entrei para a Escola do Exército em 1955. Fui aspirante a oficial, entre 1958 e 1959, na Escola Prática de Infantaria de Mafra e no Batalhão de Caçadores Pára-quedistas de Tancos. Cumpri uma comissão em Cabo Verde, entre 1959 e 1961, como alferes. Frequentei cursos de guerra subversiva no Centro de Operações Especiais de Lamego.

Já como capitão, cumpri uma segunda comissão – em Moçambique, de 1964 a 1965. Fui colocado no Batalhão de Caçadores de Porto Amélia, constituído por tropa nativa, no distrito de Cabo Delgado. Estava na região, em Setembro de 1964, quando ali eclodiu a guerra – com o ataque dos guerrilheiros ao posto administrativo de Chai.

Na madrugada de 25 de Setembro de 1964, fui acordado e chamado ao gabinete do comandante do Batalhão de Caçadores de Porto Amélia, para – após um breve, incompleto e pouco profissional relato do ataque efectuado por guerrilheiros nessa mesma madrugada – receber a seguinte ordem: 'Reúna metade da sua companhia, junte-lhe os serviços necessários e siga o mais rapidamente para o Posto do Chai'. E acrescentou: 'O nosso general deu ordens para resolver a situação em 15 dias' – o que consistia em aprisionar e eliminar os atacantes, pacificar a região e impedir novos ataques.


Tal ordem reflectia perfeitamente o nível do chefe e do militar que comandava o Batalhão de Caçadores de Porto Amélia na época em que a Frelimo iniciou as operações no Planalto dos Macondes. General e tenente-coronel, ao imporem limitação de meios, davam provas de incompetência e revelavam incapacidade para o comando.

Quase uma centena de militares – eu, dois alferes milicianos, oito sargentos e oito cabos, todos europeus, e os restantes cabos e soldados militares nativos de várias etnias – iniciaram então uma viagem de cerca de 200 quilómetros através do Planalto dos Macondes.

Em Macomia, numa rápida reunião com o administrador, que convocou a secção da PSP que fora atacada na noite anterior (um subchefe e nove praças armados com G3) e alguns cipaios (polícias indígenas recrutados entre ex-soldados do exército) recolhi as primeiras informações. Recordo a colaboração do competentíssimo, decidido e corajoso cabo de cipaios do posto para o ataque à povoação onde, provavelmente, estariam abrigados os atacantes do posto.

As frágeis portas das palhotas da povoação foram arrombadas, com total surpresa dos seus habitantes e, principalmente, dos guerrilheiros, que ainda tentaram fugir pelos fundos. Mas foram todos feitos prisioneiros sem que um único tiro tivesse sido disparado. Os autores do ataque, que iniciaram as acções de guerrilha contra a administração portuguesa ao mesmo tempo que marcava o segundo aniversário da fundação da Frelimo, estavam entre os 39 prisioneiros: um chefe com dois anos de treino de guerrilha na China, um outro que fora graduado no exército do Tanganica e meia dúzia de guerrilheiros com pouca instrução e nenhum valor. Os restantes eram moradores que tinham ajudado os guerrilheiros e que deviam ser interrogados. Armas nem uma, pois eram enterradas fora das povoações.

Lamentavelmente, o comando nada perguntou aos prisioneiros, não foi ao local fazer a avaliação dos acontecimentos e não aproveitou o ataque para dele tirar as conclusões necessárias. Foi uma lição totalmente desperdiçada, até porque se tratava, indiscutivelmente, da última oportunidade para dialogar com o incipiente movimento guerrilheiro, que podia facilmente ter evitado a catástrofe que se lhe seguiu em perdas humanas, materiais, morais e políticas.


As verdadeiras causas desta incompetência estavam em Lisboa – onde a ditadura mandava e desmandava, nomeava e demitia, promovia e condecorava segundo critérios condenáveis. Os altos comandos não tinham autoridade real para propor e impor soluções adequadas.


Apercebi-me de todas essas circunstâncias, imaginei as consequências que daí advinham, optei por uma actuação independente e acabei por desobedecer aos comandos.

Fui punido com cinco dias de prisão. Recorri e o processo arrastou-se. Colocaram-me no quartel-general, em Lourenço Marques. 

Pedi a demissão do Quadro Permanente. Mas, como ainda não tinha cumprido oito anos de serviço como oficial, não aceitaram o meu pedido.

Nomearam-me, em Outubro de 1965, comandante da Companhia de Caçadores 73 formada por nativos – que mal terminou a recruta em Boane, Lourenço Marques, recebeu a missão de ocupar e defender a área do Posto Administrativo de Olivença, no Norte do Niassa, perto dos rios Messinge e Rovuma, com menos de mil habitantes. A unidade foi reforçada com uma Companhia de Engenharia e foram construídos um quartel e uma pista de aterragem que permitia a utilização dos velhos aviões DC3, o único meio de transporte e de abastecimento durante os seis meses da época das chuvas.

Até Maio de 1966, graças à inteligência de um jovem major do Estado-Maior, que era governador do distrito do Niassa, pude actuar abertamente junto das populações, convocar os seus chefes e o próprio régulo. Dialogava com eles e dava--lhes instruções e ordens. Era importante conquistar a simpatia, o respeito, a amizade e, como consequência, a colaboração das populações. Também era importante manter a segurança na fronteira – cerca de 30 quilómetros em linha recta – com o Rovuma. E melhor ainda seria realizar um golpe de mão na Tanzânia para destruir apoios da guerrilha. 

Contei com a colaboração do filho do régulo que, após uma ‘visita particular’, regressara com um levantamento total do acampamento de guerrilheiros do lado de lá da fronteira, o que nos permitiu preparar a operação. Segui com 80 militares. Ao fim de mais de dez horas de marcha, metade das quais sob violentíssima tempestade, voltámos para trás.

A chuva diluviana, que tudo e todos encharcou, e a confusão que se apossara dos guias, cada vez mais desorientados e amedrontados, iam certamente prejudicar a acção de combate e dificultar a retirada com feridos e mortos. Foi com grande sentimento de frustração que ordenei a retirada. 

De todo o sacrifício feito só se aproveitou a propaganda, pois nessa mesma noite a BBC de Londres, na sua emissão em inglês, informou que 'as tropas portuguesas de Moçambique tinham invadido a Tanzânia, a Norte de Olivença'. O curioso de tudo isto reside no facto de os comandos militares jamais me terem interrogado sobre a invasão do território tanzaniano.

 De regresso à Metrópole, fui colocado no Quartel-General da Região Militar de Lisboa. Entretanto, foi anulada a informação negativa que tinha originado a pena de prisão. Segui para o Regimento de Infantaria 2, em Abrantes, integrado no Batalhão de Caçadores 1937. Completei oito anos de oficial. Aceitaram, então, o pedido de demissão. Quando o batalhão embarcou para Moçambique, já eu tinha sido abatido do Quadro Permanente. Abandonei a vida militar a meu pedido.

José Verdasca--Ex -Capitão do Exercito Português


Textos retirados da internet, compilados: José  do Rosário

sexta-feira, 26 de setembro de 2014

E as Hortas em Alvalade!

  
















Devido ás suas características, Alvalade deve ser no Alentejo Interior a terra onde à sua volta existem mais hortas. A minha terra que, em tempos se chamava Alvalade-Sado, tem uma riqueza imensurável que são os rios Sado e Campilhas.
As suas várzeas são de uma riqueza a que poucos dão o seu justo valor.Quer a população ou entidades publicas. A população devido a uma cultura tacanha de pouco interesse pelo que é nosso e até da parte de alguns,  alguma mal disfarçada vergonha, de serem Alentejanos. Dos poderes Públicos, um quase total desprezo por Alvalade.Às vezes dou por mim a pensar, o que seria esta região, nas mãos de alguns Povos. E voltando ás hortas,a maioria dos hortelãos são reformados. Quase todos fazem da horta um obi, em que a maioria dos produtos produzidos são para oferecer. Outros, muitos, ficam na terra sem serem consumidos.
Já se tem falado do mau aspecto que as barracas que existem nas hortas dão. Aqui a Autarquia poderia ajudar na feitura de pequenas instalações para os donos das hortas guardarem os seus utensílios. E digo-vos que não era nada de novo, já que aqui perto de nós há Autarquias que construíram e distribuíram pequenas instalações, para esse fim. Até na região de Lisboa(o que o arquitecto Ribeiro Teles há muito defende) algumas Autarquias, estão também a dinamizar junto das populações , a feitura de hortas em terrenos abandonados. Se calhar pode ser efeitos da crise.
De notar que a várzea na margem esquerda do rio Sado e onde diariamente passam centenas de pessoas de comboio, deveria ser mais alindada  no aspecto visual.

Mais atenção à ponte Romana e ás barracas lá existentes. Não era preciso grande investimento para mudar o aspecto daquela paisagem. Bastava cortar um ou dois concertos musicais em Santiago do Cacem e investir em barracas condignas para os hortelãos e alindamento na ponte que ás vezes é esquecida .

segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Os que vieram de África!....


A independência das colónias precipitou a vinda para Portugal de cerca de meio milhão de portugueses. Pelo menos 505 078 cidadãos nacionais foram forçados a abandonar África de um momento para o outro, num movimento de retorno apenas suplantado em número pela saída de um milhão de franceses da Argélia na década de 1960. Para os antigos colonos, era o fim de vidas felizes e prósperas que haviam construído no ultramar e o início de um futuro incerto na metrópole. Quem veio preferia ter ficado e quem ficou teria dispensado a invasão.
O momento não podia ser mais caótico para receber tamanho contingente de refugiados: em pleno processo revolucionário em curso (PREC), os governos sucediam--se, a instabilidade social agravava-se e a economia ressentia-se. Na segunda metade da década de setenta, com o país em recessão económica, os portugueses enfrenta­vam um sem-número de problemas, desde a escassez de empregos à falta de casas para morar. Por tudo isto, viam os retornados - assim lhes chamaram - como adversários dispostos a roubar-lhes trabalho, habitação e dinheiro.


Saídos de quarenta e oito anos de ditadura, encara­vam com desconfiança a chegada daquela gente bronzeada e de costumes modernos que usava roupas demasiado curtas e coloridas. Os de cá tinham razão para ter medo: quem vinha das colónias não só tinha um nível académico superior como estava habituado a uma economia mais dinâmica do que a portuguesa. Além disso, haviam perdi­do tudo e precisavam de arriscar se queriam reconstruir ávida.
À mágoa de terem sido despojados dos seus bens, somavam a revolta de serem considerados portugueses de segunda e, por vezes, reagiam com violência aos que os apelidavam de exploradores de negros, habituados à boa vida e servidos por um exército de criados domésticos. A palavra retornado ganhou um peso insuportável, sobretudo para quem, como muitos, nascera em África, perdera as raízes na metrópole e ficara totalmente por sua conta à chegada, sem ninguém que os acolhesse.
Perante a emergência nacional, o Estado criou o Ins­tituto de Apoio ao Retorno de Nacionais para acudir às necessidades básicas dos refugiados: alimentação, trans­porte e alojamento. Os que tinham família foram encora­jados a procurá-la nas terras de origem mesmo que não a conhecessem, sujeitando-se à eventual má vontade da receção. Os outros ficaram alojados em hotéis, pensões, residenciais, casas particulares, sanatórios e cadeias até conseguirem estabelecer-se.
Uma grande parte dos portugueses vindos das coló­nias demorou anos a recuperar uma vida normal e poucos voltaram a alcançar o nível de conforto que deixaram em África. Mas é inegável que os refugiados estimularam os negócios e transformaram as mentalidades à medida que se foram integrando.
Quase quarenta anos volvidos, a maioria dos retor­nados não esqueceu o passado nem perdoou a forma como os governantes portugueses conduziram o processo de descolonização. Para eles, que estavam habituados à abundância, o caminho foi longo e árduo: passaram fome, tremeram de frio e faltou-lhes de tudo. Alguns pre­feriram emigrar a sujeitar-se à discriminação em Portu­gal. Outros, mais frágeis, encontraram no suicídio a única saída para a inadaptação. Apesar de terem abando­nado África contra a sua vontade, hoje, raros são os que querem voltar às ex-colónias, embora, ao fim de décadas, continuem a sentir-se desterrados na antiga metrópole.
Com o distanciamento que o tempo permite e atra­vés de casos concretos que traduzem sentimentos e expe­riências gerais, este é um livro sobre a inclusão forçada de meio milhão de pessoas na sua terra de origem - ainda que pouco ou nada soubessem do país dos seus antepas­sados. Porque, para os que lá nasceram ou se enraizaram por paixão, a sua verdadeira terra, de que se viram priva­dos por uma curva brusca da História, era e continuará a ser Africa.

Livro de Rita Garcia 

Fonte

quinta-feira, 18 de setembro de 2014

Alvalade -Sado e Alentejo um futuro cada vez mais sombrio!

      


 Para onde vai  Alvalade.
Abalei Daqui nos finais dos anos 60....

Alvalade, era nesse tempo, uma  terra com vida, talvez das mais promissoras, na Região do Sado e Campilhas.

Havia emprego, para os da terra e para quem se deslocou  até  aqui.... e foram muitos.
Tinha-mos  nessa altura, um posto médico, embora a assistência fosse ainda muitas fraca. Tinha-mos  três médicos permanentes, a viver  aqui e  a qualquer hora do dia ou da noite, solicitados, prestavam assistência, a  qualquer residente, mesmo que não tivessem condições para pagar  . 
Havia Correios, Estação dos Caminhos de Ferro (todos os comboios paravam na Estação de Alvalade). Tinha-mos Registo Civil, um posto da GNR,e a qualquer hora era, visível a sua Presença nas ruas . 

Hoje,   não temos nada. A GNR aparece,  de vez em quando,mas de dia...  à noite não se vêem! 

Já se fala, que  a continuar assim: nos próximos dez anos,  mais de 50% das  habitações estarão vazias. Os velhos vão morrendo .... e cada vez a um ritmo mais rápido, talvez com intenção ...... para que sejam pagas menos reformas. 

Terra que não cria empregos , força os jovens e os mais capazes,  a procurar outras paragens para fazerem a sua vida ( tal como acontece no resto do País )

Todas as localidades do Interior  do País e em particular do Alentejo, que não sejam sedes de Concelho, foram simplesmente apagadas dos itinerários rodoviários. Quem viajar de Norte ou do Sul, não vê  uma  única placa indicando Alvalade. (Falo de Alvalade, como poderia falar de outra localidade.) Na minha Juventude se eu viesse de Beja, quando saia de Ferreira do Alentejo, havia uma placa dizendo Alvalade, agora diz: Santiago do Cacem e Sines.Se saísse de Aljustrel, lá estava Alvalade. Hoje lá está outra vez :Santiago do Cacem....e Sines. Todas as terras aqui em redor indicavam Alvalade. Agora apenas na Rotunda à saída de Santiago vejo escrito Alvalade. Se viermos de Lisboa, só encontramos informação,sobre  Alvalade,.... no cruzamento para a ponte dos Arcos. Por casualidade ou não, a placa com o nome Alvalade,  é a mais pequena, e a que tem tem mais letras! 
Qualquer assunto  badalado nos jornais e na Televisão, passado aqui em Alvalade, será referenciado como se tivesse-mos  em Santiago do Cacém, que fica a 40 quilómetros. Exemplos! Existem muitos. O último foi na Daroeira. Falava-se na barragem, como se ela estivesse situada  no Largo do Barroso, em Santiago do Cacém.Quase sempre  no local, há  pessoas que deveriam emendar este esquecimento  premeditado (já que, quem não aparece esquece) Têm o dever de lutar sempre, pelos interesses da sua terra.

 Alvalade é, e vai ser uma terra agrícola, uma terra, em que a maioria das pessoas vivem e viverão  da Agricultura ... mesmo que essa  se venha a desenvolver  mais, (e terá que se desenvolver), as novas tecnologias, vão  cada vez mais, tirar  emprego ás pessoas nessa área. Veja-se com exemplo a apanha do tomate. Antigamente para apanhar meia dúzia de hectares era preciso um batalhão de pessoas. Hoje as máquinas apanha-nos em horas, quase sem intervenção humana. A ECA dava trabalho a centenas de pessoas, hoje...uma  fábrica do ramo, trabalha  com sensores electrónicos, em vez de mãos humanas. As novas tecnologias retiram todos os anos, milhares de postos de Trabalho. Já vai sendo tempo dos sindicatos repensarem as suas reivindicações.
Esta Ordem Social  Neo - Liberal ,tal como existe,em  que só interessa o lucro e não as pessoas..... continuará a apostar nos salários baixos e como pressão, para os continuar a baixar ainda mais, a usar  tecnologias que substitua os homens e mulheres. Ou se muda este estado de coisas e se põe as máquinas ao serviço de todos  (não acredito que se faça  de forma pacifica )e não ao serviço de alguns (ricalhaços), ou então, muita coisa grave poderá acontecer, antes do fim deste século!

Em particular e em Alvalade,  a  continuar assim, a este ritmo, em poucos anos ficarão a viver, apenas   velhos, os que vivem do Rendimento    de Inserção  Social, (se ainda o pagarem) e os que vivem da política .... poucos!

Para ajudar a tudo  isto.....Já se está a concretizar a Profecia do Dr. Fernandes sobre Alvalade.

Brevemente irei escrever sobre este tema !

terça-feira, 9 de setembro de 2014

Foi a traição da Frelimo e de outros, que facilitou a tomada de Omar pela Frelimo!






Vista aérea do quartel de Omar!
Soldados Portugueses, prisioneiros da Frelimo, a caminho da Tanzânia!


Ex-comandante da Base de Omar desmente Almeida Santos e chama-lhe traidor. Almeida Santos esteve na mira  dos militares portugueses que , em Agosto de 1974, caíram nas mãos da Frelimo, em Omar (Moçambique). No centro da polémica está o segundo volume do livro «Quase Memórias», publicado, onde o dirigente socialista acusa de «traição» os homens da 1ª-Companhia de Cavalaria-Batalhão 8421. A versão relatada por um dos principais responsáveis pela trágica «descolonização exemplar» é rejeitada liminarmente, por quem viveu «in loco» os acontecimentos. Chocado e indignado, mais de trinta anos depois o ex-alferes miliciano Costa Monteiro, à altura comandante interino da Base de Omar, dispôs-se a abrir a«gaveta» das memórias em nome da verdade. De «traição à Pátria»o antigo militar acusa Mário Santos, Melo Antunes, Otelo Saraiva de Carvalho e o próprio Almeida Santos .


Jornal-O DIABO O que é que realmente aconteceu em Omar na madrugada de 1 de Agosto de 1974?
Ex- Alferes Costa Monteiro: Nessa madrugada, na orla da mata do estacionamento ouviram-se vozes, através de megafones, que diziam: «Atenção aquartelamento de Omar, nós não estamos contra vocês, lutamos contra o fascismo e o colonialismo, e esses terminaram no dia 25 de Abril. Queremos falar com vocês. Mandem um mensageiro à pista, pois nós estamos sem armas. Não queremos mais derramamento de sangue». Em consequência destas palavras, insistentemente repetidas, o soldado Joaquim da Silva Piedade ofereceu-se como voluntário para ir à pista como mensageiro. O restante pessoal continuou nas valas e em diversas posições de fogo. Quando o nosso soldado estava próximo da pista, voltaram-se a ouvir vozes, igualmente através de megafones, pedindo para que o comandante fosse também à pista. Perante a insistência acedi deslocar-me com o soldado Piedade. Surgiu, então, cerca de uma dezena de indivíduos, desarmados, munidos com gravadores portáteis, máquinas fotográficas e de filmar. Quando me encontrava a conversar com o comandante do grupo, este pediu,pelo megafone,para falar com os soldados da Companhia na pista. Face à insistência e recordando-me da mensagem 2008/01/74, do Comando do Sector B, sugeri que poderiam entrar e falar com todo o pessoal no interior do aquartelamento. A minha proposta não foi aceite alegadamente por recearem qualquer reacção das nossas tropas ou da Força Aérea. Como não foi notada a presença de indivíduos armados,aceitei que parte da Companhia fosse até à pista,ficando nas posições as secções de obuses 8,8, morteiros e postos de sentinelas. Quando uma parte dos nossos militares estavam na pista,surgiu uma força de cerca de cem homens, que pela porta de armas traseira, entraram de assalto, tomando as nossas posições no interior do quartel. A reacção das secções de obus não era possível,pelo que o grupo da força invasora entrou e obrigou o pessoal das restantes posições a sair. No mesmo momento em que o quartel foi tomado,outra força, emboscada na orla da mata da pista, cerca todo o pessoal que ali se encontrava. A Companhia não se entregou e muito menos se bandeou com a Frelimo, como alguns políticos e meios da comunicação social referiram. Foi emboscada. Se não fosse o 25 de Abril isto não teria acontecido.
Que instruções recebeu na mensagem que referiu?
Era a transcrição da mensagem 7165/P da 5.Repartição, que dizia: «Devem todos os comandos tentar criar condições locais passíveis de conduzir ao cessar fogo na sua ZA. Para o efeito lançarão campanhas de panfletos, cartas deixadas no mato, e acima de tudo servir-se como intermediários,bem como todos os meios achados convenientes. Só deve ser prometido respeito e confiança mútuos e desejo para a paz. Todos os militares serão esclarecidos destes acontecimentos e finalidades, tendo em vista evitar quaisquer incidentes ou atitudes inconvenientes e todos os resultados alcançados serão comunicados a este Comando». Baseado nesta mensagem e sob o mesmo espírito, o Comando Militar de Mocimboa do Rovuma elaborou um comunicado para ser distribuído durante os patrulhamentos efectuados por forças do B. CAV. 8421, onde era referido que «as Forças Armadas estão dispostas a não atacar o povo da Frelimo, se esta força não atacar as picadas e quartéis portugueses».
Os militares portugueses foram feitos prisioneiros?
O cativeiro dos militares de Ornar iniciou-se a 1 de Agosto, em Moçambique, e terminou a 19 de Setembro, na Tanzânia. Daquela guarnição militar cinco soldados lograram fugir.
Ainda se recorda dos nomes desses militares que conseguiram escapar às garras da Frelimo?
Sim, ainda me lembro. José António Cardoso Gonçalves, Joaquim da Silva Piedade e Vasco Ponda, que vieram a apresentar-se no dia 2 em Nangade; Sumail Aiupa e Laquine Puanhera, que se apresentaram no dia 3, igualmente em Nangade, e no mesmo dia apresentou-se Mário Andrade Moiteiro, em Mocimboa do Rovuma.
Como foi possível o êxito da cilada montada pela Frelimo?
A nossa Companhia estava — como reconheceu Melo Antunes no livro:«Melo Antunes — O sonhador pragmático» numa situação extremamente delicada e difícil, junto à fronteira com a Tanzânia, praticamente isolada, sem grandes possibilidades de informação e de comunicação. A mensagem oficial que havíamos recebido e que anteriormente referi, chegou a notícia de que, na sequência dos contactos havidos entre as autoridades militares e civis portuguesas com os dirigentes da Frelimo,estava-se à beira de atingir o desbloqueio das negociações então em curso e que a paz era dada como certa. Quanto ao êxito de que me fala, deveu-se às condições que acabo de referir e à mensagem 7165P da5.
O que é que lhe disse o comandante dessa operação da Frelimo?
Quando lhe perguntei o que é que se passava, ele respondeu que iria falar com o comandante Joaquim Chipande, que estava no interior da mata. Pouco depois fomos levados para uma base avançada da Frelimo, de que eram responsáveis Silésio e Joaquim Chipande. No dia 2, seguimos para outra base da Frelimo, onde permanecemos dois dias. Aí tivemos a primeira reunião com uma comitiva da Frelimo, chefiada pelo Chipande. Foi-nos lido o teor das conversações de Lusaca onde Chipan havia estado presente. Aquele comando da Frelimo explicou-nos, então, que a razão, ou uma das razões porque tinham tomado Omar foi pelo facto de não só ser uma base de importância vital, mas também porque já haviam escrito uma carta ao Comandante do Sector B/AV (Mueda), tenente-coronel Andrade Lopes, onde a Frelimo exigia como condições a retirada de determinados quartéis e a reunião dos mesmos em Mueda. Como não foi satisfeita essa exigência e a Frelimo sabia, pelo barulho de rebentamentos e por um mainato civil, que desertara da nossa Companhia, que Omar estava a destruir material de guerra. Após esta explicação seguimos, escoltados por guerrilheiros da Frelimo, para outra base dos guerrilheiros, onde nos juntamos aos outros soldados, pois havíamos sido divididos em dois grupos. No dia 5 levaram-nos para o Distrito de M'Napa, onde pernoitamos. No dia seguinte rumámos em direcção à base Limpopo, da Frelimo, onde nos distribuíram sopa, arroz e água. No dia 7 de Agosto estávamos em território tanzaniano. Trocaram os nossos uniformes por fardamento presumivelmente pertença do exército da Tanzânia. No mesmo dia fomos transportados em viaturas do exército tanzaniano para Newala, onde pernoitamos numa prisão em construção. No dia seguinte houve um encontro dos prisioneiros com o presidente da Frelimo, Samora Machel,que fez questão de nos cumprimentar,um por um. Na tarde desse mesmo dia fomos levados para Nashinguwea. Ficámos instalados num quartel do exército da Tanzânia, onde permanecemos presos até aos dia 19 de Setembro de 1974.
Quando regressaram a Moçambique quem é que vos recebeu e que tratamento tiveram?
Fomos recebidos em Nampula pelo coronel Travassos, na altura comandante do Sector B. Fomos bem acolhidos. Deram-nos novos fardamentos e dinheiro.
Aviltada e traída:
A sua Companhia foi traída? Foi Aviltada e traída.Se querem saber a verdade sobre o que aconteceu na madrugada de 1 de Agosto de 1974, em Omar,consultem os arquivos militares portugueses. Lamento que ninguém se tenha preocupado em transcrever o que está registado no Arquivo do Exército sobre os acontecimentos de Omar. A verdade de Omar não é a que Almeida Santos escreveu.
Recorda-se do nome do comandante da força da Frelimo que capturou a guarnição militar portuguesa de Omar, também conhecida por Namatil?
Salvador Mutumuke.
Essa acção da Frelimo em Omar terá tido alguma influência nas conversações de Lusaca?
Desconheço. Mas poderá ter servido de moeda de troca em termos de prisioneiros.
No livro que escreveu, Almeida Santos faz alusão à existência de uma cassete de vídeo que supostamente prova que os militares portugueses se entregaram voluntariamente à Frelimo.
É verdade?
Não sei de que cassete se trata. Não tenho conhecimento da existência de qualquer cassete. Nunca vi nem ouvi esse registo. O que tem sido escrito sobre o que aconteceu em Omar não corresponde à verdade.
Escreve também Almeida Santos que o general Spinola, então Presidente da República, terá ficado «perturbado» com a audição da cassete, que entretanto fora entregue a Melo Antunes pela Frelimo. Segundo as palavras de Almeida Santos, o general Spinola recusou aceitar que tão vergonhosa rendição traduzisse o espírito das Forças Armadas portuguesas em Moçambique.
Como comenta?
As ordens transmitidas pelo General Spinola não foram cumpridas pelos seus emissários é que o terá enfurecido.
Na qualidade de comandante -interino da guarnição de Omar foi ouvido pela hierarquia militar?
Não.
E pelo Poder Político
Também não.
Foi-lhe instaurado algum inquérito ou sofreu alguma punição pelo que aconteceu em Omar? Nada. Fica claro das suas palavras que os militares portugueses estacionados em Omar e que o senhor comandava não foram traidores.

Nós, os militares portugueses em momento nenhum fomos traidores. Traição houve por parte do poder político português da altura, no quadro da trágica descolonização das ex-províncias ultramarinas.

Quer referir os nomes?

Mário Soares, Almeida Santos,Melo Antunes e Otelo Saraiva de Carvalho, entre outros. Estes é que são os grandes e verdadeiros traidores da Pátria portuguesa.
O que é que acha que Almeida Santos procura com o livro que escreveu?
A meu ver procura encontrar bodes expiatórios, procura sacudir a água do capote, eximir-se às muitas responsabilidades que teve. Ainda por cima recorrendo a mentiras... É vergonhoso! O livro descreve factos sem que ele, Almeida Santos, tenha procurado averiguar da sua veracidade. Escreveu coisas sem se preocupar em buscar a verdade. É lamentável e vergonhoso. Mas ainda há mais de uma centena de pessoas vivas, ex-militares, que podem testemunhar toda a verdade.

Compilado por:  José do Rosário

quinta-feira, 4 de setembro de 2014

A Traição em (Omar ,norte de Moçambique) fez correr lágrimas a Spinola




  O significado da queda Nametil * (Omar)
Rompia a manhã a 1 de Agosto de 1974, no aquartelamento do exército colonial, chamado de «Omar», mas cuja verdadeira designação era Nametil. Estava no seu comando interino o alferes José Carlos Monteiro. Para eles, certamente, a guerra já tinha acabado, perdidos num ermo de Cabo Delgado, com uma vista monótona para a fronteira com a Tanzânia. Haviam mesmo começado a destruir algum material, pois estava previsto o seu encerramento. Ignoravam que eram, há muito, objecto de espe­cial atenção, e que iriam ficar registados na história.
Em Naschingwea, face ao impasse negocial, depois das fa­lhadas negociações de Junho, era necessário realizar uma acção capaz de acelerar a marcha dos acontecimentos. Escolhe-se o posto de Omar. Estudam-se as suas envolventes e chega-se mes­mo a fazer uma maqueta do aquartelamento. Ou a operação re­sultava em pleno ou as suas consequências poderiam ser sérias e reacender a guerra, quando da parte de uma das partes existe um estado de cessar-fogo. Samora Machel, pessoalmente, estabele­ce a táctica. E recomenda, com alguma estranheza para alguns, que a acção seja gravada em som e imagem. A 31 de Julho as forças da FRELIMO, as FPLM, tinham cercado por completo o aquartelamento. Inclusivamente colocado artilharia. Era respon­sável por esta operação no terreno o comandante Salvador Mtu-muke. Bem próximo do local, numa montanha, encontravam-se, em atenta observação, o adjunto do Departamento de Defesa, Alberto Joaquim Chipande, assim como o comandante do de­partamento de Defesa de Cabo Delgado, Raimundo Pachinuapa. Tinham instalado um sistema de comunicações entre a fren­te de operações, a base de comando e a Tanzânia, onde Samora Machel aguardava com grande impaciência o desenrolar do pla­no estabelecido.
Quando rompe a aurora do primeiro dia do mês de Agosto de 1974, os cento e quarenta soldados do aquartelamento de Nametil são acordados por megafones solicitando a sua rendição  Todos estes pormenores da tomada de Nametil foram gravados. A guarnição militar rende-se. Cento e quarenta homens são feitos prisioneiros e três conseguiram fugir. Seguirão para a Tanzânia, onde chegam a 6 de Agosto. Independentemente da controvérsia, se a rendição resultou de um equívoco ou simplesmente da tomada de decisão mais sensata do seu comandante de não combater, face à situação política que se vivia e mesmo tendo em causa a desproporção do equipamento e das armas, a tomada do quartel de Nametil (Omar)  não pode deixar de ser mencionada pelos reflexos que teve. Mais do que uma vitória militar era uma vitória política.
O presidente Spínola, com condição para uma ronda nego­cial, que se inicia a 15 de Agosto, em Dar-es-Salam, exige que a FRELIMO apresente desculpas pelo ocorrido em Ornar. Samora que engenhosamente tivera a percepção de tudo gravar, faz com que a delegação chefiada por Melo Antunes escute essa grava­ção. O que foi suficiente.
O que se passou a 1 de Agosto, nesse aquartelamento, poder-se-ia passar em qualquer outro ponto do país. Havia, da parte do exército português, a total falta de vontade de dar mais um tiro e muito menos de continuar uma guerra. Há factos indesmentíveis dessa realidade. O próprio general António de Spínola o admite e escreve que a tomada de Omar era «uma arma decisiva para Samora Machel na mesa de negociações. De militar para militar efectivamente assim o foi.
494 António de Spínola, País sem Rumo – Contributo para a História de uma Revolução. Ed. Editorial SCIRE, p. 302
In MOÇAMBIQUE 1974 – O fim do Império e o Nascimento da Nação, de Fernando Amado Couto(2011)
*Omar, para as autoridades portuguesas.
NOTA:
Se se comparar este texto com o que o Comandante Almeida e Costa relata, tanto Almeida Santos, como Melo Antunes mentiram ao General Spínola, além de não lhe fazerem a comunicação imediata dos acontecimentos de 1 de Agosto de 1974.
Diz Almeida e Costa: “Não só pelas três sessões de trabalho mas, sobretudo, pelo teor das surpresas que os esperam. A começar pela notícia de que a Frelimo tinha capturado uma companhia inteira de militares portugueses em Omar, no norte de Moçambique. Como se isso não bastasse, Samora insistiu que se ouvissem as gravações e as entrevistas feitas com os soldados capturados, apelando à rendição das forças portuguesas. «Foi muito confrangedor», explica Almeida e Costa. Incluindo para o terceiro-mundista Melo Antunes, que não resistiu a um desabafo: «Merda, assim não se pode fazer nada». Ihttp://macua.blogs.com/moambique_para_todos/2005/08/1_de_agosto_de__2.html
Assim a cassete veio para Portugal a 3/4 de Agosto e não a 17/18 de Agosto.
Porque a não apresentaram de imediato ao General Spínola?
Escreve o General Spínola:
“Assim, quando em 15 e 16 de Agosto, a Delegação Portuguesa (13) se sentou à mesa das negociações em Dar-es-Salam, a facção predominante do MFA, ali repre­sentada pelo Major Melo Antunes, já estava ao lado do chamado Movimento de Libertação e, para que ainda se retirassem às forças políticas todas as possibilidades de soluções razoáveis, recorreu-se a formas de pressão impen­sáveis e só possíveis num quadro de alta traição.

“Na mesma ocasião fui informado de que aquela reunião havia sido aberta com a audição de uma fita gravada da «rendição» de uma companhia metropoli­tana no Norte de Moçambique, num cenário concertado com as cúpulas marxistas do MFA e conhecido pela «traição de Omar» (14), gravação que ficará a assinalar uma das páginas mais vergonhosas da História do Exér­cito Português ao oferecer a Samora Machel, na mesa das negociações, uma arma decisiva. As afirmações pro­duzidas no «acto da rendição», designadamente as sau­dações à FRELIMO, como libertadora de Moçambique e do próprio povo português, constituíram prova irrefu­tável do índice de prostituição moral a que haviam che­gado alguns militares portugueses.” (In O PAÍS SEM RUMO, de António Spínola).
Ora, a fita gravada, segundo Almeida e Costa, já fora ouvida por ele e Melo Antunes na anterior estadia entre 31 de Julho e 3 de Agosto.
Agora escutem o que Almeida Santos diz sobre a reunião de 15/16 de Agosto à SIC emhttp://www.macua1.org/blog/sicalmeidasantos.html
Para quê este “teatro”?
Mas porque é que “Samora Machel, pessoalmente, estabele­ce a táctica. E recomenda, com alguma estranheza para alguns, que a acção seja gravada em som e imagem.”(In Moçambique 1974, de Fernando Amado Couto)
Porque era preciso impressionar e levar o General Spínola a aceitar o que há muito já estava combinado entre o PS, PCP e FRELIMO, desde uma célebre reunião em Paris, onde, entre outros, a FRELIMO esteve presente. Recorde em http://macua.blogs.com/moambique_para_todos/2010/04/a-outra-face-do-25-de-abril.html#more
E, para que não restem dúvidas, o autor da Newsletter aqui reproduzida, ainda felizmente vivo, me confirmou todo o seu conteúdo.
Resta ler-se a entrevista do Alferes Comandante em OMAR na altura, para se poder comparar do que é real do que é ou foi forjado.
Recorde aqui

Negando o então Alferes comandante de Omar ter proferido as afirmações que lhe são atribuídas por Almeida Santos, porque nunca foi tornada pública a cassete apresentada ao General Spínola? Será que ainda existe? Porque nunca foi ouvido qualquer dos elementos da companhia aprisionada?
OMAR e WIRIAMU são dois acontecimentos cuja génese ainda não foi totalmente dissecada. Mas que serviram na perfeição para a descolonização que foi feita.
Veja-se http://macua.blogs.com/moambique_para_todos/wiriamu/


Compilado por José do Rosário

segunda-feira, 1 de setembro de 2014

Todos os programas de comentário político nas TV deviam começar com a música de um passo doble.

Quando uma estação de televisão convida um Camilo Lourenço, um Proença de Carvalho, um Gomes Ferreira, um João Duque, um Judice, um Marcelo, um Miguel Sousa Tavares, um Ângelo Correia, devia anunciá-los como um grupo de forcados: Os Amadores do Espirito Santo, por exemplo. Eles pegam-nos sempre e imobilizam-nos. Caem-nos literalmente em cima.



Para que servem as primeiras páginas dos jornais e os grandes casos dos noticiários das TV?
Se pensarmos no que as primeiras páginas e as aberturas dos telejornais nos disseram enquanto decorriam as traficâncias que iriam dar origem aos casos do BPN, do BPP, dos submarinos, das PPP, dos SWAPs, da dívida, e agora do Espírito Santo, é fácil concluir que servem para nos tourear.

Desde 2008 que as primeiras páginas dos Correios das Manhas, os telejornais das Moura Guedes, os comentários dos Medinas Carreiras, dos Gomes Ferreiras, dos Camilos Lourenços, dos assessores do Presidente da República, dos assessores e boys dos gabinetes dos ministros, dos jornalistas de investigação, nos andam a falar de tudo e mais alguma coisa, excepto das grandes vigarices, aquelas que, de facto, colocam em causa o governo das nossas vidas, da nossa sociedade, os nossos empregos, os nossos salários, as nossas pensões, o futuro dos nossos filhos, dos nossos netos. Que me lembre falaram do caso Freeport, do caso do exame de inglês de Sócrates, da casa da mãe do Sócrates, do tio do Sócrates, do primo do Sócrates que foi treinar artes marciais para a China, enfim que o Sócrates se estava a abotoar com umas massas que davam para passar um ano em Paris, mas nem uma página sobre os Espirito Santo! É claro que é importante saber se um primeiro ministro é merecedor de confiança, mas também é, julgo, importante saber se os Donos Disto Tudo o são. E, quanto a estes, nem uma palavra. O máximo que sei é que alguns passam férias na Comporta a brincar aos pobrezinhos. Eu, que sei tudo do Freeport, não sei nada da Rioforte! E esta minha informação, num caso, e falta dela, noutro, não pode ser fruto do acaso. Os directores de informação são responsáveis pela decisão de saber uma e desconhecer outra.

Os jornais, os jornalistas, andaram a tourear o público que compra jornais e que vê telejornais.
Em vez de directores de informação e jornalistas, temos novilheiros, bandarilheiros, apoderados, moços de estoques, em vez de notícias temos chicuelinas.
Não tenho nenhuma confiança no espírito de auto critica dos jornalistas que dirigem e condicionam o meu acesso à informação: todos eles aparecerão com uma cara à José Alberto de Carvalho, à Rodrigues dos Santos, à Guedes de Carvalho, à Judite de Sousa (entre tantos outros) a dar as mesmas notícias sobre os gravíssimos casos da sucata, dos apelos ao consenso do venerando chefe de Estado, do desempenho das exportações, dos engarrafamentos do IC 19, das notas a matemática, do roubo das máquinas multibanco, da vinda de um rebenta canelas uzebeque para o ataque do Paiolense de Cima, dos enjoos de uma apresentadeira de TV, das tiradas filosóficas da Teresa Guilherme. Todos continuarão a acenar-me com um pano diante dos olhos para eu não ver o que se passa onde se decide tudo o que me diz respeito.

Tenho a máxima confiança no profissionalismo dos directores de informação, que eles continuarão a fazer o que melhor sabem: tourear-nos. Abanar-nos diante dos olhos uma falsa ameaça para nos fazerem investir contra ela enquanto alguém nos espeta umas farpas no cachaço e os empresários arrecadam o dinheiro do respeitável público.

Não temos comunicação social: temos quadrilhas de toureiros, uns a pé, outros a cavalo.
Uma primeira página de um jornal é, hoje em dia e após o silêncio sobre os Espirito Santo, um passe de peito.
Uma segunda página será uma sorte de bandarilhas.
Um editor é um embolador, um tipo que enfia umas peúgas de couro nos cornos do touro para a marrada não doer.
Um director de informação é um “inteligente” que dirige uma corrida.

Quando uma estação de televisão convida um Camilo Lourenço, um Proença de Carvalho, um Gomes Ferreira, um João Duque, um Judice, um Marcelo, um Miguel Sousa Tavares, um Ângelo Correia, devia anunciá-los como um grupo de forcados: Os Amadores do Espirito Santo, por exemplo. Eles pegam-nos sempre e imobilizam-nos. Caem-nos literalmente em cima.

As primeiras páginas do Correio da Manhã podiam começar por uma introdução diária: Para não falarmos de toiros mansos, os nossos queridos espectadores, nem de toureios manhosos, os nossos queridos comentadores, temos as habituais notícias de José Sócrates, do memorando da troika, da imperiosa necessidade de pagar as nossas dividas.

Todos os programas de comentário político nas TV deviam começar com a música de um passo doble. Ou com a premonitória “Tourada” do Ary dos Santos, cantada pelo Fernando Tordo.
O silêncio que os “negócios “ da família "Dona Disto Tudo" mereceu da comunicação social, tão exigente noutros casos, é um atestado de cumplicidade: uns, os jornalistas venderam-se, outros queriam ser como os Espírito Santo. Em qualquer caso, as redacções dos jornais e das TV estão cheias de Espíritos Santos. Em termos tauromáticos, na melhor das hipóteses não temos jornalistas, mas moços de estoques. Na pior, temos as redacções cheias de vacas a que se chamam na gíria as “chocas”.

O que o silêncio cúmplice, deliberadamente cúmplice, feito sobre o caso Espirito Santo, o que a técnica do desvio de atenções, já usada por Goebels, o ministro da propaganda de Hitler, revelam é que temos uma comunicação social avacalhada, que não merece nenhuma confiança.

Quando um jornal, uma TV deu uma notícia na primeira página sobre Sócrates( e falo dele porque a comunicação social montou sobre ele um operação de barragem pelo fogo, que na altura justificou com o direito a sabermos o que se passava com quem nos governava e se esqueceu de nos informar sobre quem se governava) ficamos agora a saber que esteve a fazer como o toureiro, a abanar-nos um trapo diante dos olhos para nos enganar com ele e a esconder as suas verdadeiras intenções: dar-nos uma estocada fatal!

Porque será que comentadores e seus patrões, tão lestos a opinar sobre pensões de reforma, TSU, competitividade, despedimentos, aumentos de impostos, gente tão distinta como Miguel Júdice, Proença de Carvalho, Ângelo Correia, Soares dos Santos, Ulrich, Maria João Avilez e esposo Vanzeller, não aparecem agora a dar a cara pelos amigos Espirito Santo?

Porque será que os jornais e as televisões não os chamam, agora que acabou o campeonato da bola?

Um grande Olé aos que estão agachados nas trincheiras, atrás dos burladeros!

Carlos de Matos Gomes 
 

Nascido em 24/07/1946, em V. N. da Barquinha. Coronel do Exército (reforma). Cumpriu três comissões na guerra colonial em Angola, Moçambique e Guiné, nas tropas especiais «comandos».

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