------------------------------------------------------------- ALVALADE-SADO!-------------------------------------------------------Blogue de informação geral sobre o mundo e o País que é Portugal

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Um artigo muito interessante, sobre Portugal, publicado no jornal Russo Pravda.


Foram tomadas medidas draconianas esta semana em Portugal pelo Governo liberal de José Sócrates, um caso de um outro governo de  centro-direita pedindo ao povo Português a fazer sacrifícios, um  apelo repetido vezes sem fim a esta nação trabalhadora, sofredora,  historicamente deslizando cada vez mais no atoleiro da miséria.

E não é porque eles serem portugueses.
Vá ao Luxemburgo, que lidera todos os  indicadores socioeconómicos, e você vai descobrir que doze por cento da  população é português, o povo que construiu um império que se estendia por  quatro continentes e que controlava o litoral desde Ceuta, na costa  atlântica, tornando a costa africana até ao Cabo da Boa Esperança, a costa  oriental da África, no Oceano Índico, o Mar Arábico, o Golfo da Pérsia, a  costa ocidental da Índia e Sri Lanka. E foi o primeiro povo europeu a chegar ao Japão….e Austrália.
Esta semana, o Primeiro Ministro José Sócrates lançou uma nova onda dos seus  pacotes de austeridade, corte de salários e aumento do IVA, mais medidas  cosméticas tomadas num clima de política de laboratório por académicos  arrogantes e altivos desprovidos de qualquer contacto com o mundo real, um  esteio na classe política elitista Português no Partido Social Democrata e Partido Socialista, gangorras de má gestão política que têm assolado o país desde anos 80.
O objectivo? Para reduzir o défice. Por quê?
Porque a União Europeia assim o diz. Mas é só a UE?
Não, não é. O maravilhoso sistema em que a União Europeia deixou-se a ser  sugado é aquele em que a agências de Ratings, Fitch, Moody's e Standard and  Poor's, baseadas nos estados unidos da América  (onde havia de ser?) virtual fisicamente  controlam as políticas fiscais, económicas e sociais dos Estados-Membros da  União Europeia através da atribuição das notações de crédito.
Com amigos como estes organismos, e Bruxelas, quem precisa de inimigos? Sejamos honestos. A União Europeia é o resultado de um pacto forjado por uma  França tremente e com medo, apavorada com a Alemanha depois que suas tropas  invadiram seu território três vezes em setenta anos, tomando Paris com  facilidade, não só uma vez mas duas vezes, e por uma astuta Alemanha ansiosa  para se reinventar após os anos de pesadelo de Hitler. França tem a  agricultura, a Alemanha ficou com os mercados para sua indústria.
E Portugal? Olhem para as marcas de automóveis novos conduzidos por motoristas particulares para transportar exércitos de "assessores" (estes  parecem ser imunes a cortes de gastos) e adivinhem de qual país eles vêm?  Não, eles não são Peugeot e Citroen ou Renault. Eles são Mercedes e BMWs.  Topo-de-gama, é claro.
Os sucessivos governos formados pelos dois principais partidos, PSD (Partido  Social Democrata, direita) e PS (Socialista, de centro), têm  sistematicamente jogado os interesses de Portugal e dos portugueses pelo  esgoto abaixo, destruindo sua agricultura (agricultores portugueses são  pagos para não produzir) e sua indústria (desapareceu) e sua pesca (arrastões espanhóis em águas lusas), a troco de quê?
O quê é que as contra-partidas renderam, a não ser a aniquilação total de qualquer  possibilidade de criar emprego e riqueza em uma base sustentável?
Aníbal Cavaco Silva, agora Presidente, mas primeiro-ministro durante uma década,  entre 1985 e 1995, anos em que estavam despejando bilhões através das suas  mãos a partir dos fundos estruturais e do desenvolvimento da UE, é um  excelente exemplo de um dos melhores políticos de Portugal. Eleito  fundamentalmente porque ele é
considerado "sério" e "honesto" (em terra de  cegos, quem vê é rei), como se isso fosse um motivo para eleger um líder  (que só em Portugal, é) e como se a maioria dos restantes políticos (PSD/PS) fossem um bando de sanguessugas e parasitas inúteis (que são), ele é o pai  do défice público em Portugal e o campeão de gastos públicos.

 A sua “política de betão” foi bem concebida, mas como sempre, mal planeada, o  resultado de uma inepta, descoordenada e, às vezes inexistente localização no modelo governativo do departamento do Ordenamento do Território, vergado,  como habitualmente, a interesses investidos que sugam o país e seu povo.
Uma grande parte dos fundos da UE foram canalizadas para a construção de pontes  e auto-estradas para abrir o país a Lisboa, facilitando o transporte interno  e fomentando a construção de parques industriais nas cidades do interior  para atrair a grande parte da população que assentava no litoral.
O resultado concreto, foi que as pessoas agora tinham os meios para fugirem  do interior e chegar ao litoral ainda mais rápido. Os parques industriais  nunca ficaram repletos e as indústrias que foram criadas, em muitos casos já  fecharam
Uma grande percentagem do dinheiro dos contribuintes da UE vaporizou em  empresas e esquemas fantasmas. Foram comprados Ferraris. Foram encomendados  Lamborghini. Maserati. Foram organizadas  caçadas de javali em Espanha. Foram remodeladas casas particulares. O Governo e Aníbal Silva ficou a observar, no seu primeiro mandato, enquanto o dinheiro foi desperdiçado. No  seu segundo mandato, Aníbal Silva ficou a observar os membros do seu governo  a perderem o controle e a participarem. Então, ele tentou desesperadamente  distanciar-se do seu próprio partido político. E ele é um dos melhores.
Depois de Aníbal Silva veio o bem-intencionado e humanitário, António Guterres (PS), um excelente Alto Comissário para os Refugiados e um candidato perfeito para Secretário-Geral da ONU, mas um buraco negro em  termos de (má) gestão financeira. Ele foi seguido pelo diplomata excelente,  mas abominável primeiro-ministro José Barroso (PSD) (agora Presidente da Comissão da EU, “Eu vou ser primeiro-ministro, só que não sei quando”) que  criou mais problemas com seu discurso do que ele resolveu, passou a batata  quente para Pedro Lopes (PSD), que não tinha qualquer hipótese ou capacidade para governar e não viu a armadilha. Resultando em dois mandatos de José  Sócrates; um Ministro do Ambiente competente, que até formou um bom governo de maioria e tentou corajosamente corrigir erros anteriores. Mas foi rapidamente asfixiado por interesses instalados.
Agora, as medidas de austeridade apresentadas por este primeiro-ministro, são o resultado da  sua própria inépcia para enfrentar esses interesses, no período que antecedeu a última  crise mundial do capitalismo (aquela em que os líderes financeiros do mundo  foram buscar três triliões de dólares de um dia para o outro para salvar uma  mão cheia de banqueiros irresponsáveis, enquanto nada foi produzido para  pagar pensões dignas, programas de saúde ou projectos de educação).
E, assim como seus antecessores, José Sócrates, agora com minoria, demonstra falta de inteligência emocional, permitindo que os seus ministros pratiquem e implementem políticas de laboratório, que obviamente serão contra-producentes. Pravda.Ru entrevistou 100 funcionários, cujos salários  vão ser reduzidos. Aqui estão os resultados:
Eles vão cortar o meu salário em 5%, por isso vou trabalhar menos (94%). Eles vão cortar o meu salário em 5%, por isso vou fazer o meu melhor para me  aposentar cedo, mudar de emprego ou abandonar o país (5%) Concordo com o sacrifício (1%) Um por cento. Quanto ao aumento dos impostos, a reacção imediata será que a  economia encolhe ainda mais enquanto as pessoas começam a fazer reduções  simbólicas, que multiplicado pela população de Portugal, 10 milhões, afectará  a criação de postos de trabalho, implicando a obrigatoriedade do Estado a  intervir e evidentemente enviará a economia para uma segunda (e no caso de  Portugal, contínua) recessão. Não é preciso ser cientista de física quântica  para perceber isso. O idiota e avançado mental que sonhou com esses  esquemas, tem resultados num pedaço de papel, onde eles vão ficar. É  verdade, as medidas são um sinal claro para as agências de ratings que o  Governo de Portugal está disposto a tomar medidas fortes, mas à custa, como sempre, do povo português. Quanto ao futuro, as pesquisas de opinião providenciam uma previsão de um  retorno para o PSD, enquanto os partidos de esquerda (Bloco de Esquerda e  Partido Comunista Português) não conseguem convencer o eleitorado de suas ideias e propostas.
Só em Portugal, a classe elitista dos políticos PSD/PS seria capaz de punir  o povo por se atrever a ser independente. Essa classe, enviou os  interesses de Portugal no ralo, pediu sacrifícios ao longo de décadas, não  produziu nada e continuou a massacrar o povo com mais castigos. Esses  traidores estão levando cada vez mais portugueses a questionarem se deveriam  ter sido assimilados há séculos, pela Espanha. Que convidativo, o ditado português “Quem não  está bem, que se mude”. Certo, bem longe de Portugal, como todos os que  possam, estão fazendo. Bons estudantes a jorrarem pelas fronteiras fora. Que  comentário lamentável para um país maravilhoso, um povo fantástico, e uma  classe política abominável.
 Timothy Bancroft-Hinchey
Pravda.Ru


Peço desculpa pela má tradução, mas percebe-se bem - José do Rosário


quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Despesa orçamentada com a Assembleia da Republica para o ano de 2010!

1 – Vencimento de Deputados ………………………12 milhões 349 mil Euros


2 – Ajudas de Custo de Deputados……………………2 milhões 724 mil Euros


3 – Transportes de Deputados ………………………3 milhões 869 mil Euros


4 – Deslocações e Estadas …………………………2 milhões 363 mil Euros


5 – Assistência Técnica (??) ………………………2 milhões 948 mil Euros


 6 – Outros Trabalhos Especializados (??) ……………3 milhões 593 mil Euros


7 – RESTAURANTE,REFEITÓRIO,CAFETARIA…………..961 mil Euros


8 – Subvenções aos Grupos Parlamentares……………..970 mil Euros


9 – Equipamento de Informática …………………….2 milhões 110 mil Euros


10- Outros Investimentos (??) ……………………..2 milhões 420 mil Euros


11- Edificios ……………………………………2 milhões 686 mil Euros


12- Transfer’s (??) Diversos (??)………………….13 milhões 506 mil Euros


13- SUBVENÇÃO aos PARTIDOS na A. R. ………………16 milhões 977 mil Euros


14- SUBVENÇÕES CAMPANHAS ELEITORAIS ….73 milhões 798 mil Euros


Total  da despesa orçamentada para o ano  de 2010,  (191 Milhões 405 mil 356 Euros e 61 cêntimos) 


Folha 372 do  Diário da República nº 28 – 1ª Série -, de 10 de Fevereiro de 2010.


http://dre.pt/pdfgratis/2010/02/02800.pdf







Se calhar aqui,  também se podia cortar um pouco....ou não falamos nisso!......



terça-feira, 12 de outubro de 2010

Vendem-se na China 46.500 automóveis por dia!

Alguns economistas prevêem que o petróleo atinja nos próximos anos o preço por barril de 100 a 150 dólares.
E os principais culpados deste brutal aumento, são as economias ditas emergentes...China, Índia e outros países Asiáticos.paralelamente as grandes multinacionais deslocaram para esses países as suas fábricas, aproveitando os baixos salários, e as fracas regalias sociais desses trabalhadores.Por sua vez esses países inundam a Europa com os seus produtos ao preço da uva mijona. Nós papal-vos , compramos esses produtos, contribuindo para o aumento do desemprego  dos nossos trabalhadores.Cá pelo burgo chamado Portugal , com uma cultura consumista...fazemos das tripas coração, para....mais que não seja, termos um carro, um ou  dois  telemóveis, um andar e passarmos férias pelo menos no Algarve.......tudo pago aos bochechos. Guterres e quejandos foram - nos instruindo nesse sentido,  ao longo da ultima década. Agora estamos quase todos de tanga..( digo quase todos porque alguns amanharam-se bem) os chinocas,têm as empresas e os postos de trabalho, nós rebentámos  com a agricultura , as pescas e a industria naval, a troco de subsídios, que alguns arrecadaram e agora temos a factura a pagar.E ela já aí está....... mais e pior há-de vir. 
Os chineses que só andavam a pé  e de bicicleta.. estão agora a enrolar a Europa e não só, num rolo de papel  higiénico, com odor a arroz. depois soará a vez deles, que isto de capitalismo americano e comunismo chinês vai continuar a tramar a  todos os que vivem do trabalho!...... 

sábado, 9 de outubro de 2010

Sócrates apresenta demissão em Belém a 29 de Outubro.

Mais uma data a fixar para a história da política nacional: no dia 29 de Outubro, uma sexta-feira, o PSD chumbará o Orçamento do Estado e o primeiro-ministro irá a Belém pedir a demissão do cargo e passar para o Presidente da República a resolução do imbróglio - como, segundo a Constituição, a realização de novas eleições só será possível depois da posse do novo Presidente, na melhor das hipóteses em Maio, resta a Cavaco Silva a possibilidade de encontrar um novo executivo por via parlamentar. 

José Sócrates vai sugerir que não seja o PS a formar o novo governo, mas sim o PSD. O caminho está aberto para um sucedâneo de "governo de iniciativa presidencial" - figura que já não existe na Constituição -, que possa contar com o apoio maioritário do parlamento. No horizonte político poderá estar um remake do governo dos 100 dias de Maria de Lurdes Pintassilgo, que serviu para gerir o país à espera das eleições seguintes. 

As pressões sobre o líder do PSD para viabilizar o Orçamento através da abstenção são gigantescas, mas Pedro Passos Coelho está impassível - e ferozmente determinado a não recuar no compromisso que já assumiu publicamente. Chumbará um Orçamento com aumento de impostos, ainda que o próprio Durão Barroso, presidente da Comissão Europeia, afirme que com o chumbo "a situação de muito má se torna péssima e as consequências serão sentidas de imediato". A proposta avançada pelo PSD, de aceitar o aumento do IVA para 23% se o governo reduzisse a taxa social única, foi recusada. O ministro das Finanças diz que seria uma medida "em que se dava com uma mão e tirava com outra" e que "não ajuda a reduzir o défice" ao não contribuir para aumentar a receita do Estado. Teixeira dos Santos reforçou: "Se nós propusemos aumentar o IVA é porque precisamos da receita. Não aumentámos para pôr o PSD maldisposto."

Parte de um artigo publicado hoje aqui...
Pessoalmente, não acredito   que  o que se escreve neste artigo, venha a concretizar-se...e porquê...porque teria que ser formado um governo de iniciativa presidencial que governasse até à tomada de posse do novo presidente da república. Ao actual presidente da república não lhe calhava nada uma  situação dessas, já que o comprometia com a governação.... a não ser que Cavaco Silva não pense em concorrer ás próximas eleições presidenciais. Os tempos que aí vêm não vão ser nada fáceis. Se acontecer o que se escreve acima....Passos Coelho.......tem os dias contados como dirigente do P S D!....E Sócrates já passou à história!......

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Crise: Deputado esfomeado reivindica jantar na cantina da AR!.


O deputado do PS Ricardo Gonçalves gostava de ter a cantina da AR aberta ao jantar. Isto porque 3700/€ mês que aufere "não dão para tudo". Fiquei com um "aperto no coração" ao ler isto.


Pensava que nada me podia surpreender na politica, mas eis que um deputado me acorda para a triste realidade: Portugal. O absurdo é o limite. O horizonte da estupidez ganha novos desígnios e contornos todo o santo dia. Ao deputado Ricardo Rodrigues dos gravadores junta-se agora o deputado Ricardo Gonçalves das refeições.
Se o primeiro meteu gravadores no bolso. Este afirma que o que lhe põem no bolso não chega para tudo, mesmo que seja um valor a rondar os 3700€/ mês. Uma miséria. "Se abrissem a cantina da Assembleia da República à noite, eu ia lá jantar. Eu e muitos outros deputados da província. Quase não temos dinheiro para comer" Correio da Manhã (vou fazer uma pausa para ir buscar uns kleenex...)
O corte de 5% nos salários irá obrigá-lo, como "deputado da província", a apertar o cinto e consequentemente o estômago, levando-o a sugerir com ironia mas com seriedade (!?) a abertura da cantina da AR para poder jantar. Uma espécie de Sopa dos Pobres mas sem pobres e sem vergonha. Só com políticos, descaramento e sopa.
"Tenho 60 euros de ajudas de custos por dia. Temos de pagar viagens, alojamento e comer fora. Acha que dá para tudo? Não dá" Valerá a pena acrescentar alguma coisa? Não me parece. Só dizer que as almôndegas que comi ao jantar não se vão aguentar no estômago durante muito tempo depois de ter feito copy/paste desta declaração.
Mas continuando a dar voz ao Sr. Deputado: "Estamos todos a apertar o cinto, e os deputados são de longe os mais atingidos na carteira". Pois é, coitadinhos, andam todos a pão e água. Alguns são meninos para largar os bifes do Gambrinus.
Bem sabemos que os grandes sacrificados do novo pacote de austeridade do Governo vão ser os senhores deputados. Ninguém tinha dúvidas quanto a isto. E ajuda a explicar o "aperto de coração" que o Primeiro-Ministro sentiu ao ter de tomar estas "medidas duras". Sabia perfeitamente que ao fazê-lo estava a alterar os hábitos alimentares do Sr. Deputado Ricardo Gonçalves, o que é lamentável.
Que tal um regresso à província com o ordenado mínimo e um pacote senhas do Macdonalds? Ser deputado não é o serviço militar obrigatório. Pela parte que me toca de cidadão preocupado está dispensado. Não o quero ver passar necessidades.
Há quem sobreviva com pensões de valor equivalente a 4 dias de ajudas de custo do senhor deputado. Quem ganha o ordenado mínimo está habituado a privações, paciência. Agora com 3700€ por mês e 60€/dia de ajudas compreendo que seja mais difícil saber onde cortar. Podíamos começar por cortar na pouca-vergonha. Mas isso seria pedir demais.


Tiago Mesquita (www.expresso.pt)

sábado, 2 de outubro de 2010

A saúde mental dos portugueses



Alguns dedicam-se obsessivamente aos números e às estatísticas
esquecendo que a sociedade é feita de pessoas.
Recentemente, ficámos a saber, através do primeiro estudo
epidemiológico nacional de Saúde Mental, que Portugal é o país da
Europa com a maior prevalência de doenças mentais na população. No
último ano, um em cada cinco portugueses sofreu de uma doença
psiquiátrica (23%) e quase metade (43%) já teve uma destas
perturbações durante a vida.
Interessa-me a saúde mental dos portugueses porque assisto com
impotência a uma sociedade perturbada e doente em que violência,
urdida nos jogos e na televisão, faz parte da ração diária das
crianças e adolescentes. Neste redil de insanidade, vejo jovens
infantilizados incapazes de construírem um projecto de vida, escravos
dos seus insaciáveis desejos e adulados por pais que satisfazem todos
os seus caprichos, expiando uma culpa muitas vezes imaginária. Na
escola, estes jovens adquiriram um estatuto de semideus, pois todos
terão de fazer um esforço sobrenatural para lhes imprimirem a vontade
de adquirir conhecimentos, ainda que estes não o desejem. É natural
que assim seja, dado que a actual sociedade os inebria de direitos,
criando-lhes a ilusão absurda de que podem ser mestres de si próprios.

Interessa-me a saúde mental dos portugueses porque, nos últimos quinze
anos, o divórcio quintuplicou, alcançando 60 divórcios por cada 100
casamentos (dados de 2008). As crises conjugais são também um reflexo
das crises sociais. Se não houver vínculos estáveis entre seres
humanos não existe uma sociedade forte, capaz de criar empresas
sólidas e fomentar a prosperidade. Enquanto o legislador se entretém
maquinalmente a produzir leis que entronizam o divórcio sem culpa,
deparo-me com mulheres compungidas, reféns do estado de alma dos
ex-cônjuges para lhes garantirem o pagamento da miserável pensão de
alimentos.
Interessa-me a saúde mental dos portugueses porque se torna cada vez
mais difícil, para quem tem filhos, conciliar o trabalho e a família.
Nas empresas, os directores insanos consideram que a presença
prolongada no trabalho é sinónimo de maior compromisso e
produtividade. Portanto é fácil perceber que, para quem perde cerca de
três horas nas deslocações diárias entre o trabalho, a escola e a
casa, seja difícil ter tempo para os filhos. Recordo o rosto de uma
mãe marejado de lágrimas e com o coração dilacerado por andar tão
cansada que quase se tornou impossível brincar com o seu filho de três
anos.
Interessa-me a saúde mental dos portugueses porque a taxa de
desemprego em Portugal afecta mais de meio milhão de cidadãos. Tenho
presenciado muitos casos de homens e mulheres que, humilhados pela
falta de trabalho, se sentem rendidos e impotentes perante a maldição
da pobreza. Observo as suas mãos, calejadas pelo trabalho manual,
tornadas inúteis, segurando um papel encardido da Segurança Social.
Interessa-me a saúde mental dos portugueses porque é difícil aceitar
que alguém sobreviva dignamente com pouco mais de 600 euros por mês,
enquanto outros, sem mérito e trabalho, se dedicam impunemente à
actividade da pilhagem do erário público. Fito com assombro e
complacência os olhos de revolta daqueles que estão cansados de
escutar repetidamente que é necessário fazer mais sacrifícios quando
já há muito foram dizimados pela praga da miséria.
Finalmente, interessa-me a saúde mental de alguns portugueses com
responsabilidades governativas porque se dedicam obsessivamente aos
números e às estatísticas esquecendo que a sociedade é feita de
pessoas. Entretanto, com a sua displicência e inépcia, construíram um
mecanismo oleado que vai inexoravelmente triturando as mentes sãs de
um povo, criando condições sociais que favorecem uma decadência
neuronal colectiva, multiplicando, deste modo, as doenças mentais.
E hesito em prescrever antidepressivos e ansiolíticos a quem tem o
estômago vazio e a cabeça cheia de promessas de uma justiça que se
há-de concretizar; e luto contra o demónio do desespero, mas sinto uma
inquietação culposa diante destes rostos que me visitam diariamente.

Pedro Afonso

Médico psiquiatra