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domingo, 25 de setembro de 2011

Acordo ortográfico!...Não percebo:se a língua é nossa, porque somos nós a alterar a escrita.

Quando eu escrevo a palavra acção, por magia ou pirraça, o computador
retira automaticamente o C na pretensão de me ensinar a nova grafia.

 De forma que, aos poucos, sem precisar de ajuda, eu próprio vou tirando
as consoantes que, ao que parece, estavam a mais na língua portuguesa.

Custa-me despedir-me daquelas letras que tanto fizeram por mim.

 São muitos anos de convívio.

Lembro-me da forma discreta e silenciosa como todos estes CCC's e PPP's
me acompanharam em tantos textos e livros desde a infância.

Na primária, por vezes gritavam ofendidos na caneta vermelha da
professora:  - não te esqueças de mim!

Com o tempo, fui-me habituando à sua existência muda, como quem diz, sei
que não falas, mas ainda bem que estás aí.

E agora as palavras já nem parecem as mesmas.

O que é ser proativo?

Custa-me admitir que, de um dia para o outro, passei a trabalhar numa
redação, que há espetadores nos espetáculos e alguns também nos frangos,
que os atores atuam e que, ao segundo ato, eu ato os meus sapatos.

Depois há os intrusos, sobretudo o R, que tornou algumas palavras
arrevesadas e arranhadas, como neorrealismo ou autorretrato.

Caíram hifenes e entraram RRR's que andavam errantes.

É uma união de facto, e  para não errar tenho a obrigação de os acolher
como se fossem família. Em 'há de' há um divórcio, não vale a pena criar
uma linha entre eles, porque já não se entendem.

Em veem e leem, por uma questão de fraternidade, os EEE's passaram a ser
gémeos, nenhum usa ( ^^^) chapéu.


E os meses perderam importância e dignidade; não havia motivo para terem
privilégios. Assim, temos  janeiro, fevereiro, março, são tão
importantes como peixe, flor, avião.

Não sei se estou a ser suscetível, mas sem P, algumas palavras são uma
autêntica deceção, mas por outro lado é ótimo que já não tenham.

As palavras transformam-nos.

Como um menino que muda de escola, sei que vou ter saudades, mas é tempo
de crescer e encontrar novos amigos.

Sei que tudo vai correr bem, espero que a ausência do C não me faça
perder a direção, nem me fracione, e nem quero tropeçar em algum objeto.

Porque, verdade seja dita, hoje em dia, não se pode ser atual nem
atuante com um C a atrapalhar.

Só não percebo porque é que temos que ser NÓS a alterar a escrita, se a
LÍNGUA É NOSSA ...? ! ? ! ?

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