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quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

Como se Morria no Niassa, norte de Moçambique


Operação Marte - 4.ª Companhia de Comandos


A 4.ª Companhia de Comandos executou, em Agosto de 1968, na região do Niassa, um golpe de mão à Base Provincial Gungunhana, aproveitando informações recolhidas durante a Operação Corvo III. 
Nesta acção, tinha sido feito prisioneiro o chefe distrital de reconhecimento (Sereco) e abatido o comandante da Base do Unango, que transportava uma pasta com documentos.
As declarações do prisioneiro permitiram referenciar a localização da Base Gungunhana e o estudo dos documentos revelou estar marcada pelo chefe provincial, Sebastião Mabote, uma reunião dos chefes militares da Frelimo no Niassa, na base, para discutir as acções a realizar nas regiões de Cantina Dias e Vila Cabral.
Devido ao valor excepcional da informação, à possibilidade de surpreender uma reunião de líderes da Frelimo e ainda de se dispor de um prisioneiro importante, foi decidido realizar uma operação no maior segredo, empenhando efectivos reduzidos, mas escolhidos.
A 4.ª Companhia de Comandos recebeu essa missão, apesar de quatro dos seus cinco oficiais estarem feridos ou convalescentes, incluindo o seu comandante, que, no entanto, se apresentou para comandar a operação. Esta companhia recebeu ainda a colaboração do grupo de milícias do Niassa, do chefe Roxo.
A força ficou constituída por três grupos de comandos de dezanove homens e um grupo de milícias com vinte e seis homens. O planeamento da operação envolveu um restrito conjunto de oficiais, o reconhecimento aéreo feito sobre a zona do objectivo aproveitou um voo de reabastecimento, para não levantar suspeitas, e os pormenores da cooperação aero- terrestre foram acordados com o comandante do Aeródromo 61 (Vila Cabral).
Depois do transporte de Vila Cabral para Metangula e de um acidente com uma Berliet, que causou vários feridos, a companhia de Comandos atingiu, em 27 de Março, a localidade de Nova Coimbra, onde se encontrava aquartelada uma unidade de caçadores e que seria a base de partida para a operação.
No dia 28, de manhã, a 4.ª Companhia saiu de Nova Coimbra, a pé, para o Lunho, e daqui para Miandica, a corta-mato. Em 31 de Março, iniciou-se a fase de aproximação à Base Gungunhana, sendo percorrido durante sete horas um itinerário muito acidentado nos montes Chissindo. A zona onde as populações de camponeses trabalhavam as suas machambas e apoiavam os guerrilheiros, demorou quatro horas a ser atravessada, para evitar que eles detectassem a presença dos militares, que pernoitaram a cerca de três horas da base e reiniciaram a marcha às cinco horas, de 1 de Abril.
Entretanto, às sete da manhã descolaram do aeródromo de Vila Cabral dois aviões, um DO-27 e um T-6, este último armado com bombas e rockets, para executarem o bombardeamento do objectivo.
Os Comandos, posicionados a cerca de mil metros da base, em dispositivo de assalto em meia-lua, avançaram após o lançamento das primeiras bombas, atacando os guerrilheiros que procuravam escapar ao bombardeamento.
Deu-se depois início à busca no interior da base, tendo sido encontrado muito material.
Como resultado desta operação, foram mortos vinte e dois guerrilheiros e capturadas três metralhadoras antiaéreas, dois RPG-2 e trinta espingardas de vários tipos, o que revela o grande desenvolvimento que a organização militar da Frelimo já havia alcançado no Niassa.
Na continuação da Operação Marte, após o assalto à Base Gungunhana, a força de comandos regressou a pé do Lunho, para Nova Coimbra, em 10 de Agosto. Neste quartel encontrava-se a coluna de viaturas que devia trazer a companhia de regresso a Vila Cabral. Dado o cansaço do pessoal e as más condições de alojamento, o capitão Valente decidiu fazer uma paragem em Metangula, para pernoitar, e tomou o seu lugar na primeira Berliet.

«Saímos de Metangula às oito e meia do dia 11 de Agosto. Eu seguia na segunda viatura quando, a cerca de oitocentos metros da bifurcação Nova Coimbra/Metangula, ouvi um rebentamento característico de mina, ocorrido no veículo da frente. Acorremos imediatamente à viatura sinistrada, a justo tempo de retirar vivo o alferes António Calvinho. Foi-nos, porém, impossível socorrer o capitão Horácio Valente, que já não apresentava sinais de vida e ardia no fogo que consumia a viatura... »    

                                                                                                                                                  

 (Do relatório do comandante da escolta).