MIANDICA...Norte de Moçambique o Inferno..~
MIANDICA“ Terra do outro mundo”
A sempre esperada avioneta DO
Algures a caminho do Lunho
A sempre esperada avioneta DO
Algures a caminho do Lunho
A região de Miandica, no Niassa Ocidental, era uma zona onde a Frelimo se encontrava fortemente implementada, construindo ali algumas das suas bases
mais importantes, nomeadamente a do Mepotxe. Era centro nevrálgico
da subversão. Assim, os “visionários” altos comandos do Sector,
decidiram, para travar o ímpeto da Frelimo, que a solução ideal seria
instalar em Miandica o Comando de Batalhão que tivesse a seu cargo a
área do Lago.
Naquele
futuro “quartel” seria, segundo palavras que nós próprios ouvimos no
local ao 2º Comandante do Sector, que efectuou em Abril de 1967, “um
punhal cravado no coração do inimigo”. Vai daí, foi ocupada a região da
antiga povoação de Miandica estabelecendo-se o estacionamento, junto às
margens do rio Mecondece, em 22 de Setembro de 1966, por um pelotão da
CCAV 1507 do BCAV 1879. Com a mudança operacional no subsector, Miandica
passou a ser ocupada por pelotões, primeiro da CCAÇ 1559 e depois da
CCAÇ 1558 do BCAÇ 1891. Decorrido um ano nova mudança se operou na
região, pelo que é a Cart 2325 do Bart 2838 que destacou o seu pelotão
para a “terra do nada”.
Foi
efémera a estadia desta força em Miandica, porquanto, o COMSEC,
determinou, em 3 de Abril de 1968, a extinção deste destacamento por se
saber da intenção da Frelimo atacar, com grandes efectivos, as pequenas
forças da N.T
Ao
cabo de 22 meses, concluíram as altas “esferas” militares que o “punhal a
cravar no coração do inimigo” produziu efeitos contrários, ou seja,
atingiu aqueles que ali sobreviveram nas mais precárias condições,
enterrados em buracos e com abastecimentos tardios, onde o inimigo se
deleitava, a seu belo prazer, atacar aqueles indefesos militares
encurralados entre barreiras erguidas por uma máquina de engenharia,
CEngª 1531, ali colocada para construir uma pista de aviação.
Como
já dissemos, o destacamento de Miandica foi abandonado em Abril de
1968. Todavia, anos mais tarde, já com a picada reconstruída,
deslocaram-se ao local, onde fora “erguido” o estacionamento, os
capitães Cardoso e Silva Santos das CCaç 4141 e 2ª do Batalhão de
Cavalaria 8420, respectivamente, com a missão de avaliar da
possibilidade de instalar um novo aquartelamento em Miandica.
Naquela
sua “visita”, os dois graduados, fizeram questão em registar o momento
junto à placa, ainda de pé, com a identificação da pista de aterragem.
Refira-se,
que durante o tempo em que ali permanecemos, nem todos os pilotos
aterravam naquele local, por entenderem não existir, nem condições
técnicas nem de segurança para o efeito, pelo que se limitavam, em voo
rasante, a lançar o correio e os géneros ao longo da pista.
Este
texto e as fotos foram retirados do Livro AQUARTELAMENTOS DE MOÇAMBIQUE
de autoria de MANUEL PEDRO DIAS ex. combatente da CCaç 1559
NOVAMENTE MIANDICA
Não
estamos fora da verdade ao afirmar que praticamente todos os
operacionais do BCAÇ 1891 passaram por Miandica. Alguns integrando os
pelotões para ali destacandos, outros fazendo parte das forças militares
destinadas a efectuarem operações de grande envergadura a partir
daquele local. Quer uns, quer outros, não estarão
certamente esquecidos de como era viver naquele inóspito lugar.
Numa
das nossas acções de pesquisa, sempre em busca de algo que se enquadre
com os propósitos da nossa Revista, descobrimos um site, da autoria do
Capelão da Unidade que nos rendeu no Niassa (BArt. 2838), que nos fala
de Miandica.
Os
velhinhos de quem se fala, a morte ocorrida no ataque”A”(soldado António
Fernandes) bem como ”B” Nossa Senhora de Miandica são nomes ligados à
nossa CCAÇ. 1558 rendida por igual força da CArt. 2325.
Texto de Manuel Pedro Dias retirado da revista”Batalhão”) nº10 de Maio de 2004
NOTA
DO BLOG: ”A” Para melhor entendimento sobre a morte do Fernandes
consulta no Blog a crónica “Morte em Miandica” de António Carvalho.
“B”
Num dos muitos dias de desânimo e de angustía, que se viviam em
Miandica no final de Outubro de 1967, devido à falta de géneros
alimentícios e do tabaco, apesar dos insistentes pedidos via rádio à
Companhia em Nova Coimbra e ao Comando do Sector em Vila Cabral. O
saudoso Alferes Monteiro, conversando com o Amadeu, o Matos e o Júlio
teve a brilhante ideia de pedir ao Movimento Nacional Feminino, uma
imagem de Nossa Senhora. Este pedido foi de imediato atendido e no dia
10 de Novembro de 1967 ela já estava junto à barreira e à bandeira
Nacional. Os géneros só passados mais alguns dias é que chegaram e
graças à boa vontade dum piloto da Força Aérea
Como o Padre Pierre Teilhar de Chardin em
MISSA SOBRE O MUNDO
Um capelão militar em África. Norte de Moçambique, Miandica, 1 de Abril de 1968
Um capelão militar em África. Norte de Moçambique, Miandica, 1 de Abril de 1968
José Rabaça Gaspar
Uma
vez mais, eis que não tenho um altar, nem toalhas, nem hóstia, nem
cálice, para celebrar o sacrifício da Missa. Estamos em plena guerra e
de rigorosa prevenção. As tropas de elite saíram para uma operação, não
pode haver ajuntamentos ou actividades que não permitam uma reacção
pronta e imediata. Estamos em pleno mato. É o destacamento mais pequeno e
isolado do batalhão, no meio do maior isolamento e desolação! Somos
cerca de três dezenas de soldados. Tenho os nervos num feixe como eles
mas não o posso dar a entender. É pior a expectativa do que a acção
planeada e movimentada, comenta o comandante do destacamento, um alferes
miliciano com os estudos em suspenso, até ao fim da guerra dele ou…para
sempre…?... Há rumores. Há ditos. Há avisos. Houve certas informações.
Houve um morto há poucos dias precisamente no dia em que este grupo veio
substituir o destacamento que cá estava. Vieram atrás de vocês checas
dum raio. Uma vez ou atacam de longe daquele… e mal tiveram tempo de se
abrigar, as granadas de morteiro começaram a chover e foi um tiroteio
infernal. Os checas não se mexem, abrigam-se. Deixem actuar os
“velhinhos”, o do morteiro, sozinho, valia por um exército inteiro,
chegou a juntar cinco tiros no ar…A primeira granada deles acertou em
cheio na barreira onde eles estavam… a segunda ao pé do mastro e a
terceira foi a que matou o soldado Fernandes e o resto dos estilhaços
bateram no nicho que além erguemos a Nossa Senhora de Miandica Rogai
por Nós ...que ali está desde 10 de Novembro de 1967, senão teria sido
aqui uma mortandade completa. Esta santinha deve ter salvo muitos de
morrerem. Só aquele é que não se salvou. As outras já foram cair longe
para a mata. Com os primeiros tiros, o morteiro deve ter-se deslocado e
foi a nossa salvação e a reacção pronta e estrondosa deve ter
desmoralizado os Turras que atacavam. Dentro em pouco estava tudo sereno
e não houve mais ataques até hoje. Valha-nos aqui Nossa Senhora que
este destacamento é só um matadouro sem utilidade nenhuma, a guardar um
mastro com a bandeira no meio do deserto que é esta mata inexplorada…
.
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Parte do texto de José Rabaça Gaspar retirado da revista “Batalhão” nº10 de Maio de 2004
Crónicas do tempo perdido
Corria
o mês de Fevereiro de 1968, um domingo antes do Carnaval, quem escreve
estas linhas lia o livro, de título “ Sob o nevoeiro” enviado pelo
Movimento Nacional Feminino, sentado no posto de vigia a noroeste do
destacamento, quando vejo aparecer um branco de camuflado, com a G3,
arrojada pela terra, e muito cansado. Grito-lhe, não dás nem mais um
passo… e porquê esta minha atitude… ( nas vésperas tínhamos recebido
informação dum golpe de mão prepetado por brancos num destacamento, contra nós, na zona de Cabo Delgado, O sujeito bem berrou que era do
pelotão que nos vinha render,,, começaram a chegar mais militares e
pouco depois começou um forte de bombardeamento, por uma arma nunca
usada contra nós naquela zona, o canhão sem recuo. Depois, sofremos a
última baixa em combate, o soldado Fernandes.
Nota
final: passados dois meses Miandica foi abandonada parece que sem honra
nem glória. Ao que me contaram em Vila Cabral, quando com quase 26
meses de Moçambique fomos chamados de novo a intervir na zona de
operações na região de Nova Viseu !
José do Rosário C.Caç 1558
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