PROJECTO: "ALBA "(1952-1954) Uma obra-prima nacional
A ALBA era já, no início da década de 50, uma das maiores unidades industriais de metalurgia nacionais. Então, já com mais de 60 anos, o comendador Augusto Martins Pereira começou a deixar progressivamente a gestão da fábrica para o seu filho Américo. Mas foi o seu neto, António Augusto, então na casa dos 20 anos e um grande entusiasta do desporto automóvel, quem decidiu criar a marca ALBA, vocacionada para a competição e que, depois da FAP e da Dima/DM, foi a terceira marca portuguesa a surgir após a Segunda Guerra Mundial.
O primeiro exemplar do ALBA foi construído em 1952 e, logo se tornaram notadas algumas das características básicas que, mais tarde, acabaram também por ser copiadas por outras marcas portuguesas envolvidas na competição automóvel. É pois preciso assinalar que a ALBA não foi um caso isolado. A carroçaria do ALBA foi sempre o perfeito exemplo de um intenso equilíbrio estético. A prova de como a aerodinâmica deveria ser, então, tratada: as suas linhas suaves e afiladas, muito baixas, fizeram escola e eram desenhadas à imagem do que de melhor se fazia então na Europa, nomeadamente tendo por inspiração as “barchettas” italianas. Somente as marcas que surgiram após a ALBA se preocuparam em desenvolver produtos mais eficazes aerodinamicamente pois, até então, as suas formas eram algo rudimentares e pouco eficientes. E, quanto a isto, na verdade é preciso referir que a ALBA chegou mesmo a conceber carroçarias, feitas à imagem do “seu” desportivo, para outras marcas nacionais.
Foram fabricados apenas 3 ALBA e, hoje em dia, existem 2 exemplares: o exposto no Museu do Caramulo desde 2006, de carroçaria creme, matrícula OT-10-54; e o TN-10-82, vermelho, cuja construção, em 1953, foi financiada por Noémio Capela, que com ele apenas participou no III Rali Rainha Santa, em Coimbra, em Julho de 1954, embora o tenha cedido à equipa para correr noutros eventos. O seu motor é um FIAT de 1089 cc. Desconhece-se o que sucedeu ao terceiro ALBA, matrícula LA-11-18, de 1954, embora a convicção geral seja de que tenha sido destruído num acidente e, posteriormente, “reconvertido”, algures nos finais da década de 50.
A ALBA foi a única marca a construir, para além da carroçaria, um motor próprio, situação a que foi obrigada pelas alterações regulamentares impostas em 1954 pelo ACP (Automóvel Clube de Portugal) e que a impediam de continuar a ser competitiva com os pequenos motores FIAT e Simca de 1089 cc, que usava desde a sua origem. Nesse ano, os limites de cilindrada subiram dos 1100 cc para os 1500 cc, penalizando os pequenos construtores artesanais portugueses, pois todos usavam o mesmo fiável motor de origem italiana e que tão bem sucedido era nos pequenos e ágeis Cisitalia. Por isso, foram muitas as que então deixaram de correr e, principalmente, de ser competitivas.
A única equipa que lutou contra essa maré foi a ALBA, liderada como sempre pelo espírito empreendedor de António Martins Pereira. A princípio, foi decidido desenvolver um motor a partir do FIAT, mantendo a mesma base mas aumentando o diâmetro, atingindo os 1325 cc. Mais tarde, a ALBA desenvolveu um motor mais potente, baseando-se num bloco da Peugeot, resultando num 1360 cc. Mesmo assim, continuava impossível bater os motores da Porsche, que dominavam através dos Denzel e dos Porsche 550 Spyder. Foi então que Corte-Real Pereira teve a ousadia de pegar num motor Alfa Romeo 6C 1750 e diminuir-lhe o diâmetro, criando assim um curioso motor de 6 cilindros e 1,5 litros de cilindrada, que infelizmente não teve muito sucesso nas 3 provas em que participou na Boavista em 1955 e 1956 e Vila Real em 1958.
Sem baixarem os braços, os homens comandados por Martins Pereira começaram então a desenvolver o projecto inédito de um motor próprio, concebido nas instalações da metalúrgica de Albergaria. Totalmente feito em alumínio, era um bloco de 4 cilindros quadrado (diâmetro e curso de 78 mm), com 2 árvores de cames à cabeça e 2 velas por cilindro, distribuidores movidos directamente pelas Árvores de cames e 2 carburadores duplos horizontais, uma novidade técnica na Época. Leve e fiável, a sua potência oscilava entre os 90 e os 95 cavalos e, acoplado a uma caixa de 4 velocidades, permitia ao ALBA atingir os 200 km/h. Felizmente, é esse o motor que está no ALBA existente no Museu do Caramulo e que, todos os anos, sobe a Rampa, por ocasião do Caramulo Motor Festival, pilotado por Salvador Patrício de Gouveia.
Uma história de sucessos.
O ALBA estreou-se no Circuito de Vila do Conde, a 31 de Agosto de 1952. O primeiro resultado de relevo aconteceu logo no mês seguinte, também em Vila do Conde, o 2.º lugar na classe. A sua primeira vitória na geral foi na Taça Cidade do Porto, no Circuito da Boavista, em 1953, ganhando a prova na frente de 30 outros carros, 20 dos quais de origem portuguesa, o que mostra bem a vitalidade da nossa indústria artesanal de automóveis de competição. A última vez que um ALBA participou numa prova foi em 1961, quando Corte-Real Pereira conquistou o 3.º lugar absoluto no Rali Nocturno do Salgueiros.
Ao longo destes anos, os ALBA participaram em 42 provas, conquistando os seus pilotos 25 pódios e 10 vitórias, das quais 5 absolutas e entre elas, a Taça Cidade do Porto, no Circuito da Boavista, em 1953 (Corte-Real Pereira) e o Rali Vinho do Porto, em 1955. A história desportiva do ALBA concentrou-se entre os anos de 1953 e 1956, sempre em Portugal, nunca se tendo deslocado além-fronteiras.
No total, foram 9 os pilotos que utilizaram os ALBA. Para além de Francisco Corte-Real Pereira que fazia principalmente provas de velocidade e de António Martins Pereira dedicado aos ralis e provas de regularidade, os outros pilotos foram Noémio Capela, Elísio de Melo, Baltazar Vilarinho, Castro Lima, Carlos Miranda, Manuel Nunes dos Santos e Manuel Alves Barbosa.
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