Lá estarei antes de chegar e...Ainda lá ficarei depois de partir!...
Que terra era aquela?
A jovem tinha sido arrancada aos seus amigos ,à sua família, ao seu ambiente....
Chegou com meia dúzia, de coisas, as suas coisas.
Alvalade!!! Era o nome da terra onde viveria nesse ano. Mais tarde soube , que era uma vila embora o ambiente fosse de aldeia. Tinha catorze anos e iria frequentar o décimo ano para Aljustrel, pois em Alvalade só havia escola até ao nono ano.Tinha de se levantar ás seis da manhã para apanhar o autocarro ás sete.Um autocarro que percorria vários lugarejos, onde recolhia um único aluno. Um autocarro que demorava mais de uma hora para chegar a uma escola que dista vinte quilómetros da sua residência. Era assim,qualquer outra terra ficava a muitos quilómetros de distância...
Ao contrário dos jovens nascidos em Alvalade, que ansiavam por sair da terra (ainda que só até precisarem de sair, porque depois de saírem, não vêem a hora de voltar), a Maria foi-se deixando conquistar por ela. Aquilo que seria uma permanência provisória foi-se prolongando por mais um ano e outro e outro..... Fez amigos cultivou laços fortes com eles e com os familiares deles. Ganhou confiança de muitas pessoas e passou a contar com elas na sua vida.
Também passou a contar com os quarenta graus de temperatura no Verão temperatura que só permite saídas à noite e que faz do campo , com os seus sobreiros, as suas barragens e o luar, o lugar certo para conviver. Aceitou de bom grado o facto de o ano só ter duas estações: o Verão e o Inverno, portanto seis meses de cada uma. As paisagens amarelas de giras-sóis ou lilases de violetas e lírios passaram a ser um regalo para os seus olhos e passava longos momentos a contemplar aquilo que, até aí, só lhe parecia possível em telas.Mas quando os campos se cobriam de palha e depois de fardos de palha, com o seu cheiro tão característico, também os seus olhos se deslumbravam com a uniformidade da cor, quebrada aqui e ali pelos sobreiros. A Maria deixou que a sua personalidade se formasse sob a influência deste pequeno mundo que constituía Alvalade. Umas quantas casas rodeadas por imensas extensões de campo, que separavam a vila da localidade seguinte. Um lugar onde as pessoas pareciam mais autênticas do que noutras regiões, onde já tinha vivido. Um lugar onde os idosos se juntavam de manhã cedo e ao fim da tarde no jardim central ou ás portas de suas casas para conversarem, onde ainda se pode andar de bicicleta nas ruas, ou jogar à bola à frente de casa...
O pior foi quando passaram os anos suficientes para ser preciso trabalhar. E as oportunidades de trabalho não aconteciam. Entretanto a vida no próprio país, também se complicou e ela teve de voltar a sair do ambiente, da sua terra , dos seus amigos.... O apelo daquela vila, de seu nome Alvalade, tornou-se constante. A pequenez daquele mundo , onde o tempo parece ter outra morosidade passou a ser o oásis para onde corre, sempre que o seu emprego lho permite.
A sua vida, numa grande cidade cosmopolita, é uma correria constante. Entre o trabalho as compras, os semáforos, os transportes públicos e as incertezas do tempo, todos os dias risca mais um dia no calendário . Cada dia parece sempre não chegar para tudo o que necessita fazer. Acumula folgas para somar aos dias de férias que parecem fatalmente poucos.Junta planos para nada ficar por realizar quando por fim partir.....Portugal ...Alentejo ...Alvalade! As casinhas todas brancas e térreas , os amigos , a calma, o calor, o tempo...que dura sempre mais do que em qualquer outro lugar do planeta...
Já lá estarei antes de chegar e...
Ainda lá ficarei depois de partir !!!
Maria do Rosário Mateus
Retirado do livro: Para Alvalade com Amor
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