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quarta-feira, 9 de julho de 2014

E...Cavaco cidadão tem todo o direito de virar as costas







Ana Sá Lopes – jornal i, opinião – ontem

Cavaco cidadão tem todo o direito de virar as costas a quem diga mal dele

Há adjectivos que se vão colando a determinadas pessoas e se propagam sem que de facto se possa perceber muito bem porquê. A coisa nasceu um dia, alguém a repetiu e espalhou-se como um vírus. Se o qualificativo for simpático para a criatura em questão, será ele próprio, os seus amigos, os seus porta-vozes que se encarregarão de amplificar. Alguns dos qualificativos são de escassa duração e lidos muitos anos depois tornam-se quase cómicos: no arranque da campanha interna de Sócrates à liderança do PS, alguns socialistas chamavam a Sócrates “o Cavaco do PS”. O que era aqui “vendido” era a “determinação”, a “persistência”, a “capacidade vencedora”, etc. e tal. Hoje é provável que os mesmos que há dez anos falavam nisto considerem a identificação insultuosa.

Quanto a Cavaco Silva, o adjectivo que desde muito cedo se lhe colou foi o de “institucionalista”. A expressão é repetida em vários fóruns com regularidade – em muitos casos até para justificar as omissões do Presidente (tipo a Constituição não dá quase poderes nenhuns ao Presidente da República).

Ora se Cavaco Silva fosse verdadeiramente institucionalista tinha mandado fazer uma notazinha do Palácio de Belém a dar os parabéns a Carlos do Carmo pelo Grammy. Não é Cavaco Silva a saudar o homem que o criticou asperamente nos últimos tempos – é o Estado português, que Aníbal Cavaco Silva chefia, a dar os parabéns a Carlos do Carmo. Mas Cavaco Silva não distingue as suas funções entre chefe de um estado e as do simples cidadão que se ofende com as críticas e deixa de falar a quem o destratou. O Cavaco cidadão tem o direito de virar as costas a todos os portugueses que dizem mal dele (que, a avaliar pelas sondagens, já são mais que muitos). O Cavaco Presidente da República tem uma instituição a servir e o Estado a representar. Ao recusar emitir o tradicional comunicado oficial (repetido cada vez que qualquer português ganha um prémio de relevo), Cavaco Silva demonstra que não é um institucionalista, como não foi institucionalista ao faltar ao funeral de Saramago, como não foi institucionalista ao fazer uma comunicação ao país em horário nobre sobre as anedóticas “escutas de Belém”. E não faltam outros exemplos.

Chamem-lhe todos os nomes que quiserem, institucionalista é que não. Cavaco Silva vende essa ficção com o mesmo sucesso e glória adjacente com que vendeu dos anos 80 ao tempo presente (30 anos!) a teoria de que não era um “político”.

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