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quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

E a queda da População activa será um desastre e nunca conseguiremos pagar a Divida

A queda da população activa em Portugal é um motivo de preocupação, alerta o Nobel da Economia, que esteve em Lisboa para participar na homenagem a Silva Lopes. Paul Krugman aproveitou o facto de estar em Portugal, para participar na cerimónia de homenagem a Silva Lopes na segunda-feira, para voltar a analisar a economia portuguesa. No seu blogue no The New York Times, o Nobel da Economia diz que tem feito "algum trabalho de casa sobre os tempos terríveis que Portugal sofreu recentemente", tendo destacado o indicador que mais lhe prendeu a atenção: a queda da população activa em Portugal. Mostrando um gráfico que dá conta que Portugal tem hoje menos de 6,8 milhões de pessoas entre 15 e 64 anos, contra mais de 7 milhões em 2011, Krugman coloca a questão: se em tempos de dificuldades um país sofre uma perda em larga escala no número de trabalhadores, quem vai pagar a dívida e tratar dos reformados? Sem responder directamente a esta questão, Krugman exemplifica como se pode entrar numa "espiral de morte demográfica": se um país que regista um elevado endividamento vir a sua força de trabalho cair devido à emigração, terá de aumentar os impostos aos que permanecem no país para conseguir cumprir o serviço da dívida. O que poderá levar mais pessoas a sair do país e originar o ciclo vicioso de mais emigração e mais impostos. Será este um cenário realista? Krugman diz primeiro que depende do nível da dívida pública e da rigidez da despesa pública e também da elasticidade da população activa face à carga fiscal. E também da vontade da população em sair do país, da sua cultura e da língua. "Portugal, com uma longa tradição de emigração, pode ser mais vulnerável do que outros países, mas não faço ideia se já está realmente nessa zona [de espiral demográfica]", confessa Krugman no seu artigo publicado este sábado. Krugman, um dos maiores críticos da criação da Zona Euro e da política de austeridade implementada na Europa nos últimos anos, sobretudo em países como Portugal, já tinha recentemente advertido para a evolução da economia portuguesa. Num artigo publicado em Agosto, usou Portugal para exemplificar os efeitos negativos do euro, assinalando a "espiral de morte económica" que tem incentivado um elevado número de trabalhadores portugueses a emigrar. No artigo deste sábado, Krugman salienta que as uniões monetárias deveriam servir para mitigar estes problemas de fortes fluxos de emigração em países que enfrentam dificuldades. Contudo, com uma taxa de câmbio flexível, choques adversos causariam desvalorização na moeda e em consequência nos salários. Sem esta ferramenta de desvalorização cambial, os choques adversos provocam desemprego por um longo período, até que o processo de desvalorização interna restaure a competitividade da economia. Neste âmbito, Krugman sugere que os níveis de emigração em Portugal são mais elevados devido à integração na Zona Euro, pois "a emigração é muito mais sensível ao desemprego do que aos salários". E apesar de reconhecer que a emigração num país com elevada taxa de desemprego não tem efeitos imediatos na receita fiscal (grande parte das pessoas que emigra não tem trabalho e por isso não paga impostos), Krugman destaca os efeitos de longo prazo que pode ter um elevado nível de emigração. Apesar do tom negativo sobre a economia portuguesa, Krugman termina o post no blogue afirmando que Lisboa é uma cidade "adorável" e que "justificadamente" atrai muitos turistas. Krugman participa  num evento que decorre no Banco de Portugal para homenagear Silva Lopes. O Nobel da Economia de em 2008 conheceu o então governador do Banco de Portugal quando em 1976 passou o Verão a trabalhar no Banco de Portugal com um grupo de estudantes do MIT, ainda antes da primeira intervenção do FMI no país.