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segunda-feira, 25 de março de 2013

Estes já vêem Portugal fora do euro e dizem como vai ser


Octávio Teixeira:
Quadro do banco de Portugal e ex deputado do PCP

Não vejo outra solução para o país poder inverter esta caminhada acelerada para um abismo cada vez mais fundo”, considera o economista, que defende a desvalorização da moeda como instrumento para vencer a crise. “Poderia haver desvalorização da moeda, com ganhos de competitividade em termos de comércio externo. E haveria aumento do crescimento económico e, por via de mais exportações e de menos importações pela via da substituição, mais receita fiscais e mais emprego. Uma taxa cambial adequada, poderia fomentar a reindustrialização do país”. O quadro do Banco de Portugal diz ainda que “se for uma saída negociada com a zona euro e o BCE, não há razões para o caos. Mas numa fase inicial deverá haver controlo dos movimentos de capital de curto prazo para evitar especulação e eventuais fugas”. Octávio Teixeira defende ainda que “o país enriqueceria num prazo muito curto. A Islândia desvalorizou 50% e já recuperou substancialmente”. E acrescenta que “as poupanças só seriam afectadas por via da desvalorização cambial e o aumento da inflação. Mas também haveria uma compensação, meramente parcial, que tem a ver com uma melhor remuneração dos depósitos. É a única forma que Portugal tem de recuperar da crise”, conclui.

João Ferreira do Amaral:

Economista Catedrático emérito do ISEG.

O economista considera que não há saída para Portugal dentro do euro. “O país deixou de ter condições para crescer. Não vejo outra solução para se poder inverter esta caminhada acelerada para um abismo cada vez mais fundo. É preciso voltar a haver condições para o país crescer, combater o desemprego e garantir a sustentabilidade de Portugal enquanto país. O facto de termos uma moeda que não é nossa e é muito forte para a capacidade da nossa economia bloqueia o nosso crescimento”. João Ferreira do Amaral considera que o que provoca o caos imediato é o caminho que está a ser seguido. “A saída é precisamente para evitar o caos total. E o país não iria empobrecer. Iria enriquecer por crescer mais através do aumento as exportações e da diminuição das importações”. Quanto ás poupanças, Ferreira do Amaral diz que “não seriam afectadas. Haveria a garantia dos depósitos. E as remunerações dos depósitos normalmente adaptam-se à inflação. A saída devia ser anunciada e apoiada pelas instituições comunitária. E isso implicaria haver um compromisso de apoio durante um período transitório negociado entre as autoridades portuguesas e comunitárias. E haver garantia das aplicações em euros feitas até ao início do período transitório. É evidente que dentro do euro Portugal não vai recuperar nunca da crise”, acrescenta.

João Rodrigues:

Economista e investigador do centro de Estudos Sociais (CES)

Num contexto de crise, desemprego e ausência de instrumentos de política económica, pode ser uma forma de recuperar a soberania democrática e instrumentos de política económica. A alternativa, uma saída por cima com uma integração federal, parece vedada”, diz João Rodrigues, que acrescenta que “esses instrumentos permitem um combate mais eficaz à crise do que a alternativa que temos de um empobrecimento que leva a um aumento brutal das desigualdade sociais”. O economista diz ainda que o grau de caos ligado à saída da moeda única “vai depender das respostas que forem dadas pelos diferentes actores políticos a nível nacional e europeu. Pode ser uma saída mais ou menos cooperativa. Claro que estamos a empobrecer no euro e a acumular uma dívida cada vez maior. As poupanças, tal como os salários e as dívidas, teriam de ser transferidos para a nova moeda. E muita coisa vai depender da relação entre a evolução dos salários e a taxa de inflação”, considera. “A experiência dos países que romperam com sistemas cambiais rígidos como a Argentina, e os países que puderam usar os instrumentos de política associados a moeda própria, como a Islândia, mostram que sim”, conclui.

Pedro Brás Teixeira:

Director executivo do Nova Finance Center, da Nova School of Business.

O economista diz que, menos que defender, prevê uma saída de Portugal do euro. “Está tudo a a evoluir de tal maneira que o pías vai sair”, diz. “O euro não tem condições de sobrevivência e por isso é que vamos sair. O regime é insustentável. Aquilo que poderia permitir que o euro sobrevivesse seria a criação de um orçamento federal. Mas os países não estão dispostos a aceitar”. Brás Teixeira refere ainda que o menor ou maior caos “depende da forma como o euro acabe. Há duas maneiras: ou os parceiros europeus tomam consciência que não há condições políticas para a sua sustentabilidade e negoceiam o seu fim, ou a moeda vai acabar de forma caótica, através de um tsunami financeiro”. O ex- assessor da ministra Ferreira Leite constata ainda que Portugal já está mais pobre e que as “poupanças do portugueses podem ser afectadas porque a nova moeda se vai desvalorizar face ao euro. E porque é possível, como em Chipre, que nem todos os depósitos fiquem garantidos”. Mas a saída teria vantagens. “Permitiria uma certa forma de recuperação. Passaríamos a ter uma taxa de câmbio para recuperar competitividade e instrumentos adicionais para corrigir a economia. Numa primeira fase, a inflação também vai ajudar as contas públicas”, refere.

Jorge Bateira:

Economista.

O projecto político da Alemanha não é o que imaginávamos quando construímos a União Económica e Monetária. A Alemanha não quer assumir os encargos com o resto da UE, só quer os benefícios da moeda única”, diz. “Provavelmente a zona euro vai acabar sem uma decisão expressa. Um dia o BCE não vai conseguir convencer os mercados. Nós temos todo o interesse em sair porque não temos manobra na política económica para desenvolver o país”.Jorge Bateira considera também que “não é forçoso que o caos tenha de acontecer. Só um governo extremamente desastrado e impreparado, como é o caso deste, levaria a isso. Seria perigoso que o euro acabasse com este governo. É preciso uma liderança forte para que não houvesse nenhuma turbulência”. Quanto ao país, o economista considera que já está a empobrecer e que se sair da moeda única, haverá uma inflação inicial, controlável e no primeiro ano. As poupanças dependerão da inflação. Quando a inflação começar a descer, pode haver um decréscimo do poder de compra. Mas o valor nominal manter-se-há. “Recuperamos muito mais depressa. A situação da Argentina foi uma calamidade e um semestre depois da bancarrota já estava a crescer. E foram nove anos seguidos de crescimento”, conclui.

Nuno Teles:

Doutorado em economia, investigador do Centro de Estudos Sociais de Coimbra.

O economista considera que há razões para a saída de Portugal da moeda única sendo que a primeira se prende com o peso que a dívida tem hoje em Portugal e a necessidade de a renegociar profundamente, o que “não vai ser aceite” pelos nossos credores. A vantagem da saída, acrescenta, “seria a independência monetária, que permite contornar os constrangimentos do financiamento do Estado. É preciso pôr fim à austeridade e relançar a economia, através do financiamento do Banco Central ao Estado, como acontece nos Estados Unidos e Japão. A desvalorização da moeda permitirá um reequilíbrio relativamente ao exterior”. Nuno Teles refere também que haverá alguns problemas se voltar a haver uma moeda nacional. “A inflação, que afecta os salários. Mas Portugal já teve essa experiência sem que tivesse afectado muito o nível de vida dos trabalhadores. E tem de haver controlo de capitais. Outro problema é que a banca está muito endividada no exterior, o que implicaria a sua falência técnica, e eventualmente, a nacionalização”. No curto prazo acrescenta que pode haver algum caos mas que a opção, “custosa”, deve ser comparada com o actual rumo político. “As poupanças seriam renomeadas na nova moeda. E os créditos também. O que passa a contar é a taxa de inflação, que funciona negativamente nos depósitos e positivamente na dívida, promovendo o consumo e o investimento”. Mas avança que Portugal recuperará mais depressa fora do euro. “No caso argentino, seis meses depois do default, a economia já estava a recuperar”, diz.