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quinta-feira, 4 de julho de 2013

Transporte de Lanchas,para o lago Niassa!





Finalmente. A Lancha em terra

Em 1963 foram inauguradas as instalações do (Comando da Defesa Marítima dos Portos do lago Niassa). Quase um ano antes do início do conflito armado na província do Niassa, (Setembro de 1964 – Cobué), a marinha portuguesa, aproveitando a lição recolhida com os acontecimentos de Angola, antecipou-se às previsíveis dificuldades no noroeste moçambicano e criou uma estrutura que se revelou de capital importância até aos últimos dias do conflito.
Trabalhos épicos. A transposição de lanchas"LDM" e "LDO"sobre uma ponte ferroviaria

Agregado a este comando foi mais tarde criado o CELN, (Comando de Esquadrilhas de Lanchas do Niassa). Esta estrutura visava manter a vigilância e controlo das águas territoriais do lago Niassa; apoiar no transporte e cooperação de forças terrestres e aéreas; assumir a defesa do apoio logístico às bases da Marinha no lago, assim como aos Destacamentos de Fuzileiros ali presentes. Deveria ainda promover apoio aos serviços e missões hidrográficas. 
Na foto de cima. a LFP "REGULUS" na estação de Belém. Em Baixo a demonstração de mais uma grande obra de Engenharia. A LDM 404 a atravessar um Ponte


Os primeiros navios que ficaram colocados sob comando do CELN foram as LFP (Lanchas de Fiscalização Pequenas), “Castor” e “Régulus”, em 21 de Novembro de 1963 e 23 de Novembro de 1965 respetivamente. O transporte desta última revestiu-se de particular dificuldade, não só porque foi o primeiro realizado com o conflito armado já em curso, mas também porque durante a viagem ocorreu um descarrilamento da plataforma ferroviária que suportava a lancha o que provocou um deslocamento da embarcação cuja reposição se revelou difícil. Com estes dois navios chegaram ainda 2 LDM e 2 LDP, (Lanchas de Desembarque Médias ou Pequenas). Estas duas LFP vieram a ser cedidas ao Malawi, em 1970, ao abrigo de um acordo secreto, que obrigou a novo baptismo das embarcações para “John Chilembwe” e “Chibisa” respectivamente. A 20 de Maio de 1975 foram cedidas a título definitivo àquele país africano.


Nos primeiros dias de Setembro de 1965 chegaram ao porto de Nacala mais duas LFP, a saber, as lanchas “Mercúrio” e “Marte”. As tentativas de encalhe dos navios nas plataformas ferroviárias resultaram num fracasso, pelo que os Caminhos-de-ferro de Moçambique desistiram da operação, tendo as lanchas voltado ao mar. O Comando Naval de Moçambique lança então uma grande operação, envolvendo forças de terra e mar, para realizar o transporte das embarcações até Meponda, onde seriam colocadas nas águas do lago. A operação recebeu o nome de código “Atum”e teve início a 13 de Setembro de 1965.
Chegada ao Catur. Transposição do transporte ferroviário para o rodoviário. Na foto de cima a LFP "MERCÚRIO".Na de baixo a LDM "404"

O problema do encalhe das embarcações foi resolvido pelo Engº Lino Ferreira e pelo Capitão de Mar e Guerra Pedro Mouzinho, que construíram para o efeito uma linha férrea literalmente até dentro de água do Oceano Índico. Foi depois necessário esperar pela maré alta para que os carris ficassem submersos, colocando-se as embarcações sobre estes e esperando pela vazante para que aquelas ficassem na posição certa quando os carris estivessem novamente fora de água.


A operação de transporte decorreu sob comando de um oficial do Comando Naval de Moçambique, e contou com escolta do agrupamento de Comandos formado meses antes na Namaacha, que garantiu a segurança a homens e material. Ao oficial que comandou esta força do exército, Alf. CMD Cabral Sacadura, foi ainda atribuída a responsabilidade de autorizar ou não, a circulação de comboios entre o Lumbo e Catur, para que esta não colidisse com o transporte das lanchas.
Finalmente Meponda. AS Lanchas no seu habitat natural

Ao longo do percurso foi necessário destruir alguns muretes que serviam de guardas das pontes, dando largura suficiente para que as lanchas atravessassem aquelas obras de arte. Em alguns locais construíram-se autênticos castelos com travessas em madeira, para elevar as embarcações e vencer dessa forma os obstáculos no percurso. Deve-se salientar que a tracção manual foi a única utilizada nos momentos em que surgiram dificuldades de circulação do género das descritas, numa operação verdadeiramente épica.
A Operação“Atum” terminou a 19 de Dezembro de 1965, quando as lanchas navegando desde Meponda, chegaram a Metangula, e a escolta regressou ao Lumbo. O percurso incluiu aproximadamente 500km em via-férrea, e depois 250 km por via terrestre, quantas vezes sinuosa, onde a improvisação foi a solução para cada contratempo.
Em 1967 o CELN recebeu as últimas embarcações, duas LFP, “Saturno” e “Urano”, assim como 2 LDM. Estas embarcações completaram a força naval no lago Niassa. 





Viagem de Meponda para Metangula
Chegada de tropas a Metangula. Quantos milhares de Portugueses fizeram este percurso